segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

BIENVENUE À MARLY-GOMONT


A história verídica de um médico congolês que, para fugir à ditadura de Mobutu, se instala com a família numa aldeia francesa. Outrora Zaire, a República Democrática do Congo foi desgovernada por Mobutu Sese Seko entre 1965 e 1997. O filme de Julien Rambaldi (n. 1971) recria a história do médico Seyolo Zantoko na década de 1970. Formado em Paris, recusou regressar ao Zaire como médico pessoal de Mobutu. Preferiu ser colocado numa aldeia a norte da capital francesa. A decisão acarreta riscos, mas a vontade de obter nacionalidade francesa para poder exercer medicina no país que o formou impõe-se aos benefícios imediatos da cedência ao regime natal. Com a mulher desesperada e os filhos acabrunhados, a família instala-se numa aldeia refundida. Aí terá de se impor junto de uma comunidade onde ainda prevalecem os preconceitos racistas. Comédia romântica, se assim se pode dizer, povoada de mensagens políticas e sociais, Bienvenue à Marly-Gomont (2016) é um filme que se vê com condescendência numa tarde de domingo. Mais eficaz nos momentos emotivos do que nas charlas cómicas, torna-se algo vazio quando pretende expor os comportamentos da comunidade rural onde se instala a família Zantoko. A paisagem e o provincianismo das personagens não justificam tamanho aparvalhamento, supondo-se que a integração tenha acarretado momentos bem mais agrestes do que a paleta colorida e ligeira permite adivinhar. No papel de Anne Zantoko, mulher do protagonista, reencontramos Aïssa Maïga, que entrou com menos 10 anos em Paris, je t’aime (2006). Só pela sua presença já não se dá o tempo por perdido.

Sem comentários: