terça-feira, 6 de abril de 2021

DUMB (1993)

 


Encurralados que andamos nas agendas universais, difícil seria não reparar que Kurt Cobain morreu há tantos quantos os que contava quando resolveu estourar com os miolos. Já passaram 27 anos, perguntaste com admiração. Sim, 27 sobre a última vez que fodemos. Vê tu bem para o que estávamos guardados. Parece que foi ontem e calçávamos botas da tropa e vestíamos camisas de flanela aos quadrados, abertas no Verão, escondidas sob malhas da Nazaré no Inverno. E fumávamos ganzas, muitas, de comboio a caminho de cidades onde houvesse bandas a tocar e aldeias vivas e prenhes de tártaro nos balcões de pedra. Agora esta coisa asséptica de dores de cabeça às segundas e infecções às terças. Talvez devêssemos contratar um perpétuo vigário, honesto e de boa vida, que por nossas almas rezasse às quartas, velasse às quintas e cantasse às sextas, letrado se pudesse ser, acompanhado de três capelães de boa voz, alimentados a pão cozido e vinho e trigo providenciados por um tesoureiro rodeado de alqueires e almudes como nós de agendas mediáticas, mais um provedor que não fosse frade nem comendador nem poderoso de cavaleiro para cima, um almoxarife fiel com seu diligente servidor e um escrivão de muita verdade e boa consciência, que são raros, assim um físico e um boticário capaz de montar mezinhas contra nossas infecções, maleitas, malárias, e um hospitaleiro e três enfermeiros e um barbeiro e um sangrador e uma cristaleira mais suas escravas amassadeiras, cozinheiras, lavandeiras, outro a carretar necessidades, um hortelão capaz de tratar tão bem de couves quanto de vacas, cabras e ovelhas mais uns tantos assoldados com nome de pessoa. Que para bulas, escambos e aforamentos já bastam os poetas.

3 comentários:

Gilberto Dinarte disse...

;) não se pode deixar morrer estes emojis nem kurt cobain

Guz disse...

Fonix. 27 anos. Estou a ficar velho.

L. disse...

o bilhete continua guardado.