terça-feira, 13 de abril de 2021

NEW SONG #3 (1978)

 


Comecemos pelo avô a responder às dúvidas dos netos sobre a revolução. Tudo gravado a pensar no próximo 25. No final, a dúvida: acham que estive bem? E a constatação: esqueci-me de falar disto e daquilo. É sempre assim, pai, confortei, o essencial ficou. Terá ficado? A memória é traiçoeira. Partamos do princípio segundo o qual a matéria mais relevante é-nos oferecida sem imposto, sendo de menor relevância o que permanece por detrás da cortina. Recalcamentos não são esquecimentos, são memórias desactivadas. Por vezes, um acontecimento, um cheiro, uma palavra bastam para reactivar esse material trazendo-o à superfície. Se resolvêssemos fazer uma árvore genealógica das memórias, como as elaboramos de famílias, até onde conseguiríamos chegar? Tenho uma irmã crente em terapias regressivas, está convencida de que conseguimos lembrar-nos de vidas passadas. Há documentários espantosos sobre o tema, ainda há dias vi um. Não me impressionou, pelo menos não tanto como parece ter impressionado os restantes elementos do agregado. Era sobre crianças que desde cedo mencionavam vivências anteriores ao dia em que vieram ao mundo, com referências concretas a lugares, factos, os quais se comprovavam mediante investigações aparentemente objectivas. Não digo aparentemente para menosprezar a hipótese em causa, apenas porque tanto em matéria de investigações científicas como de memórias tudo me surge envolto em aparências. Entretanto, uma outra irmã dedicou-se à genealogia de facto, descobrindo do lado da mãe uma Quitéria do Paraíso provavelmente nascida em 1770. Ter-me-á falado? Seria cigana? O que têm Ron Carter, Herbie Hancock e Tony Williams que ver com isto? Estavam no Japão a gravar 1 + 3.

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