terça-feira, 20 de abril de 2021

UM POEMA DE HARRYETTE MULLEN

 


NÃO NOS RESPONSABILIZAMOS

Não nos responsabilizamos pelos seus familiares perdidos ou sequestrados. Não garantimos a sua segurança caso desobedeça às nossas instruções. Não apoiamos as causas nem as reivindicações dos indivíduos que pedem subsídios. Reservamo-nos o direito de recusar serviço a quem quer que seja. O seu bilhete não significa que lhe garantimos as reservas. A fim de facilitar os nossos procedimentos, é favor limitar os seus comportamentos. Antes da descolagem, é favor extinguir quaisquer rastilhos de rancor. Se não compreende inglês, será removido. Em caso de perda, o melhor é desembaraçar-se. A sua apólice foi cancelada porque deixámos de tratar das suas pretensões assustadoras. Os nossos expedidores perderam a sua bagagem e não conseguimos encontrar a chave para o seu caso legal. Não lhe assiste a presunção de inocência se a polícia tiver razões para suspeitar que traz consigo uma carteira escondida. Não temos a culpa de ter nascido com a cor de um gangue. Não temos a obrigação de o informar dos seus direitos. Ponha-se de lado, por favor, enquanto o nosso agente revista a sua atitude censurável. Não lhe assistem direitos que devamos respeitar. Por favor mantenha a calma, ou não podemos ser responsabilizados pelo que lhe venha a acontecer. 

Harryette Mullen, in Lisbon Revisited - Dias de Poesia, trad. Margarida Vale de Gato, Casa Fernando Pessoa, Junho de 2018, p. 38. 


1 comentário:

Anónimo disse...

Isso não é uma caricatura ou comentário irônico. Ao menos aqui no Brasil é o que está acontecendo ipsis literis....