«São, na esmagadora maioria, homens e ganham, em média,
dez vezes mais do que os colaboradores das empresas. É este o retrato do típico
presidente executivo (CEO) em Portugal, segundo um estudo da consultora Mercer,
relativo ao ano de 2020. O mesmo que demonstrou que 85% dos que ocupam cargos
de topo na administração e órgãos de fiscalização das empresas são homens e
ganham, em média, mais 20% do que as mulheres nos mesmos cargos.» Notícia de Janeiro
do ano corrente. A imagem ao lado reproduzida é do DN, data de 2017. Começa logo
tudo mal nos nomes que atribuímos às coisas. Há 7 anos escrevi este desabafo:
«importa repor a verdade: o dia do trabalhador devia passar a chamar-se dia do
colaborador. É assim que as empresas tratam quem para elas trabalha,
independentemente de ser trabalho ou colaboração o que “os colegas” têm para
"oferecer". Do ponto de vista do patrão, está claro que é
colaboração. Do ponto de vista do empregado, será o que ele desejar. Os
empregados são sempre livres de pensar, pena que não sejam igualmente livres de
actuar. O próprio "Código do Trabalho" devia passar a designar-se
"Código do Colaborador". Vai trabalhar, vagabundo, canta Chico
Buarque. Antes cantasse vai colaborar. É mais fino.» Os trabalhadores
portugueses vivem sob ameaça do desemprego, o medo tolda-lhes a acção.
Obedecem sem questionar, desinteressam-se dos seus direitos por se julgarem
desprotegidos. Estão convencidos de que as leis existem para enfeitar. Tentar
congregar forças no interior de uma empresa, contra situações de assédio moral,
de intimidação, de ameaça descarada, para não falar da pressão constante com
objectivos inatingíveis, habilmente desenhados para calar pacóvios, muitas
vezes com prémios indignos e até insultuosos, é missão hercúlea. E depois essa
prática instituída de que a vida do trabalhador só existe na medida em que o
patrão ponha e disponha dela. É missão hercúlea lutar contra isto. As queixas a
superiores hierárquicos caem por regra em saco-roto, porque o superior
hierárquico também tem um superior hierárquico que, por sua vez, tem um
superior-hierárquico e assim a mensagem vai-se perdendo pelo caminho. Em muitas
ocasiões senti-me sozinho e isolado a apontar o dedo, mas não me arrependo de uma
única vez em que isso aconteceu. No país do faz de conta, a regra é: não
estou para me chatear. E então diz-se sim senhor, obedece-se ou, à moda do
"chico-esperto", inventa-se maneira de fingir que se obedece. Um
desgaste. Podia contar-vos inúmeras histórias, umas mais caricatas do que
outras, do que foi a experiência de trabalhar 11 anos para uma empresa que
factura milhões e paga miseravelmente aos seus... colaboradores. Prefiro
lembrar-me do que foi a minha progressão salarial, como gerente de livraria, ao
longo de 11 anos:
31/12/2008: 430€
30/01/2009: 450€
29/01/2010: 475€
29/11/2010: 480€
31/01/2011: 485€
29/07/2011: 692,41€
29/04/2019: =
Infelizmente, não tenho acesso aos vencimentos auferidos pelos CEO, administradores e directores da mesma empresa. Deve ser mais ou menos a mesma coisa.
1 comentário:
Nesse gráfico percebe-se perfeitamente como o regime de exploração laboral caricatura o regime político "democrático"...que tanta gente vangloria. A mim já me custa mastigar essa palavra "democracia"...quando associada a estes regime vem sempre com muito caroço. E depois tenho que está sempre a cuspir ou a pedir licença para o fazer.
Vou-me deixar disto.
Abraço e saúde pública!
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