domingo, 7 de novembro de 2021

MAIN SPRING (1957)

 


Chamavam-lhe “o pequeno gigante”, por tocar como gente grande o saxofone tenor que Lionel Hampton lhe pôs nas mãos. Tinha 17 anos e era baixote. Thelonious Monk ficou fã, assim como o baterista Art Blakey. Mudou-se para França em 1963, seguindo para a Holanda em 1978, fugindo a problemas com impostos e a um casamento falhado. Morreu na Europa, vítima de ataque cardíaco. E pronto, é esta a história de Johnny Griffin. Ou seria, não fosse o caso de ter deixado uma longa e imprescindível discografia como líder e acompanhante. De facto, o que valem os aspectos biográficos de um artista diante da sua obra? Nada. Infelizmente, a existência dos artistas é imprescindível à realização das obras. E é até provável que estas sofram a influência daquela. Estamos perante um dilema. Estando ambas interligadas, podemos sempre questionar-nos sobre o que vale mais: viver ou criar? Será a vida vidinha incompatível com a criação de uma obra? Por vezes, parece haver entre as duas dimensões um conflito insanável, como se a criação nos sugasse toda a energia deixando-nos sem qualquer vontade de viver, sem o mínimo de vigor para cumprir as tarefas básicas exigidas pelo quotidiano, tais como levar o cão a passear, cozinhar, limpar a casa, fazer compras, marcar férias, ir ao ginásio, sair com os amigos, conviver. Por vezes, a campânula do saxofone engole-nos e ficamos entalados algures entre o pescoço e o tubo principal, impedindo que o ar circule e a música soe com nitidez. Obra sim, mas quanto baste. Vida sim, mas quanto baste.

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