sexta-feira, 6 de maio de 2022

CATARINA, A PRIMEIRA

 


   Pedro-o-Grande morre, não deixando testamento, nem indicação de sucessor. Ele tinha coroado a sua «Katarinucha» e é ela que lhe vai suceder; assentando-se no trono de todas as Rússias esta aventureira adúltera. O seu governo é insignificante, fazendo-se apenas alguns actos que, em inércia, vinham já de Pedro-o-Grande, como, por exemplo, a inauguração da Academia das Ciências. O cómico assenta-se por momentos no trono imperial com a vinda da família da imperatriz. Um dos seus irmãos, antigo sapateiro, é feito conde, bem como outro, um antigo servo. Os modos de toda esta gente cobrem de ridículo a corte da Rússia.
   Mas os deboches da imperatriz conseguem exceder todas as vergonhas da família. Embriaga-se todas as noites até que a madrugada a leva, cheia de baixo cio animal, para a cama com o amante «da ordem da noite». A indignação cresce e ela faz nomear herdeiro, Pedro, o neto do grande imperador e filho do desgraçado Aléxis (interrogado e torturado pelo próprio pai, obrigado a renunciar aos seus direitos ao trono, acusado de conspiração). 


Pedro II sucede a Catarina I... e é no seu governo que o grande amigo de Pedro-o-Grande e antigo amante de «Katainucha», o pdoeroso Menchikof, é, com toda a família, desterrado para a morte fatal da Sibéria. Os áulicos, os Dolgorukyi, conseguem trazer o imperador para Moscovo, assinalando assim um protesto contra a política petroviana, e resolvem casá-lo com sua irmã. Esta, que amava um secretário da embaixada da Áustria, é obrigada a ir a uma caçada do imperador. Depois dum bem dirigido repasto, é a princesa deixada a sós, pelos irmãos, com o imperador. Este, caído no laço, compromete-se a reabilitar a honra da princesa Dolgorukyi, casando com ela.
   Pouco depois do casamento agoniza. Os Dolgorukyi falsificam um testamento que não conseguem fazer assinar ao moribundo. Quando este morre, Ivan Dolgorukyi corre pelo palácio de espada em punho gritando: Viva a imperatriz Catarina. Ninguém lhe responde e fica vago o trono da Rússia. «O Conselho Supremo» escolhe, na família de Pedro Grande, a princesa Ana da Curlândia, na esperança de poder impor condições, que alarguem o poder dos nobres. De facto esta Ana assina tudo o que lhe pedem e aceita o poder . A nobreza da província, temendo o domínio do Conselho, pede-lhe que aceite o poder autocrático — o que ela faz rasgando as condições que assinara. Ana quisera trazer o seu amante, que ela tinha casado com uma amiga complacente. A oposição dos Dolgorukyi custou mais tarde a Ivan o esquartejamento, a seus tios e outro Dolgorukyi a decapitação; a outro Dolgorukyi foi cortada a língua e a bela viúva de Pedro II foi enclausurada num convento. Ana mudou de novo a capital para Petersburgo, indo com a nova corte dos seus parentes e amigos — os Buhrren, os Munnich, os Loewenwold, etc, etc.

Leonardo Coimbra, in A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre (1935). 

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