vivia dentro de uma grande montanha. Esta tinha um respiradouro
que se abria numa planície onde habitava o povo coelho.
O Coiote costumava caçar coelhos nessa planície. Mijava-lhes
na toca para os fazer sair. Ninguém suportava aquele cheiro rançoso
por muito tempo.
Um dia, quando andava à caça, topou o respiradouro
do sol e mijou lá para dentro. Vendo que nada
acontecia, encostou o ouvido ao buraco. Ouviu um rugido
distante. Deve ser um coelho gigante, pensou.
Afastou-se, sorveu meio rio, e mijou aquilo tudo
no buraco. Começou a sair vapor do buraco. De repente,
o chão rugiu e começou a tremer.
O Coiote pôs-se a fugir. Aquilo não podia ser um coelho, pensou; aquilo
tinha de ser um monstro qualquer. Escondeu-se atrás de uma artemísia, a observar.
A montanha rasgou-se ao meio e o sol saiu disparado em direcção ao céu.
Nascera a luz do dia!
O coiote olhou para o seu pénis, deu-lhe umas palmadinhas carinhosas,
e disse: — Oh, tu tens muito poder. Só tu consegues fazer
acontecer coisas destas.
E era assim como as coisas aconteciam nos velhos tempos.
Peter Blue Cloud (1933-2011), em Para uma antologia da poesia ameríndia contemporânea, selecção e tradução de Fernando Gonçalves e Júlio Henriques, in Flauta de Luz, n.º 9, Junho de 2022, p. 155.
1 comentário:
"(...) há mais na luxúria por um topo de montanha do que um ajustamento fisiológico perfeito. E esse mais reside dentro da montanha. Algo se move entre mim e ela. O lugar e a mente podem interpenetrar-se até que a natureza de ambos seja alterada. Não consigo dizer o que é que esse movimento é, a não ser relatando-o pormenorizadamente."
Nan Shepherd, A Montanha Viva
Enviar um comentário