domingo, 15 de outubro de 2023

A BOTA E A PERDIGOTA

 

Festival Literário Internacional de Óbidos, Festival de Literatura Utopia (Braga), Festival Literário de Mafra, Festival Literário de Ovar, Festival Literário de Castelo Branco, Festival Literário Lisboa 5L, Festival Literário Livros a Oeste (Lourinhã), Festival Literário de Bragança, Festival Literário Em Nome da Terra (Gouveia), Festival Literário Internacional do Interior (Góis), Festival Literário do Marco (de Canaveses), Festival Literário Douro, Books&Movies - Festival Literário e de Cinema de Alcobaça, HÚMUS - Festival Literário de Guimarães, FLIM – Festival Literário da Mealhada, Festival Literário da Madeira, Maratona de Leitura (Sertã), LeV Literatura em Viagem, Festival Literário Internacional de Querença, Festival Ronda Poética (Leiria), Correntes d'Escritas (Póvoa do Varzim)....

61% dos portugueses não leram um só livro no último ano. ( Notícia do Expresso a Fevereiro de 2022)

UM COMENTÁRIO DO ESCRITOR JOÃO PEDRO MÉSSEDER:

Eu penso que já está explicado: os festivais são feitos precisamente para se dispensar a leitura, ou quase não se ler. Ou seja, para se ir, estar-se lá e desse modo já não ser preciso ler. (Isto é exagerado, porque sempre vai havendo lá leitores, mas em relação a muitos outros frequentadores, é o que se passa). Por esse motivo, é que a essência do festival é o escritor ou quem seja contar anedotas, dizer graças, contar histórias e depois aparecer nas redes com um ar muito alegre e boémio, de preferência à mesa e com um copinho na mão... Assim já é 'desnecessário' lê-lo. Também por isso é que metade ou dois terços dos convidados são ou políticos e gestores da área da cultura, ou comentadores de TV ou figuras televisivas ou músicos. Gente a quem é pedida faladura, claro. Há invariavelmente exposições de ilustração, etc. Jornalistas como convidados tem de haver sempre, que é para depois garantirem (ou alguém do órgão por eles) a cobertura mediática, por muito indigente que seja. E o autarca? Ainda que possa nunca ter lido um livro na vida, para o autarca cujos munícipes pagam (in)directamente a coisa (e não é pouco), o festival é extremamente importante em termos eleitorais/políticos locais e dá-lhe a doce ilusão (deixá-lo) de que a terra "se afirma" pelo festival e atrai gente para a economia local. Uma autarquia há que agora até anuncia "o maior festival" de todos, o maior de sempre, etc. "Last but not the least": há toda uma pequena trupe (não só lusa) de intervenientes no festival que anda de encontro em encontro e está em todas/os: contadores, animadores de, diseurs... De mês em mês, quase, reencontram-se; são pessoas que vivem desse trabalho, digamos, e do respectivo presigo. Importa ainda que se perceba a quantidade de empresas, uninominais ou não, ligadas a um 'animador' ou 'autor' que "vendem" festivais às autarquias e que vivem, claro está, da rede de contactos e do laço amiguista. Esse/a empresário/a assume o nome de 'curador' (antigamente, era o comissário). A tudo isto chama-se economia. Há quem lhe chame também cultura. E até promoção da leitura.

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