domingo, 29 de outubro de 2023

UM POEMA DE A. M. PIRES CABRAL

SUNT LACRIMӔ RERUM
 
Pedras, cardos, ervas sem préstimo,
daquelas que se pisam
sem que a consciência doa.
 
Terra arável transfigurada em poeira
de que os caprichos do vento fazem remoinhos
e onde nenhuma semente já se arrisca,
nem nenhum tráfego de arados sobrevive.
 
Diante disto, resta
dizer adeus às armas da paz,
fechá-las na arca e deitar a chave fora,
represar as águas que transbordam
da extrema secura do solo.
 
A. M. Pires Cabral, in Gaveta do Fundo, Edições Tinta-da-China, Novembro de 2013, p. 86.

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