quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

LUA AMARELA

 


   Resultado de uma encomenda do TAG Theatre Company, "Lua Amarela (A Balada de Leila e Lee)" estreou no Citizen's Theatre - Circle Studio, em Glasgow, a 29 de Setembro de 2006. O protagonismo vai para Lee Macalinden e Leila Suleiman, dois adolescentes problemáticos em fuga. Os motivos são diversos, assim como as razões. Ele quer encontrar o pai, que o abandonou quando tinha cinco anos. Ela junta-se a ele por pretender sentir-se real. Leila é muçulmana, filha de refugiados sírios, boa aluna, tímida, sofre de um distúrbio de automutilação não suicida. Ele vive com a mãe e com o namorado da mãe, foi expulso da escola e tem um projecto: ser proxeneta. A Balada de Leila e Lee é a história de como fugiram em busca de um novo mundo, depois de acontecimentos que precipitam a fuga deslocando-os para o interior de uma Floresta Negra onde os planos da realidade e da ficção acabam por se confundir.
   David Greig (Edimburgo, 1969) cresceu na Nigéria. Estudou Inglês e Drama na Universidade de Bristol. Co-fundador, com Graham Eatough, em 1990, da Suspect Culture, uma das mais inovadoras companhias do Reino Unido. Tem sido representado em Espanha, Alemanha, França. Escritor residente da Royal Shakespeare Company entre 1996-1997. Além de trabalhar em projectos para rádio, televisão e cinema, tem tido encomendas do Royal Court Theatre, do Royal Theatre os Scotland. Com “Yellow Moon” coloca-nos na presença de personagens jovens sobre as quais o real exerce um peso devastador, impelindo os protagonistas, entre os quais o narrador desta história, para um contexto sociologicamente desviante. Esse contexto ajuda-nos a enquadrar as decisões, o rumo tomado, mas não o branqueia nem o explicita.
   Há neste texto uma dimensão onírica sublinhada pela busca de refúgio para personagens assaltadas por uma treva interior que o “Stack O’Lee Blues” de Mississippi John Hurt sublinha, ao mesmo tempo que permite compreender as raízes dessa treva. Famílias disfuncionais, sistemas de integração social inoperantes, nuvens de crueldade pairando sobre sociedades mediaticamente exploradas segundo uma lógica meramente sensacionalista. Enquanto Lee se diverte a fazer desenhos pornográficos da setôra de francês, que depois exibe no painel de notícias da escola, Leila distrai-se a folhear revistas cor-de-rosa: «Gosta de tocar nelas. Gosta das cores, mas mais do que tudo, gosta do sentimento que tem quando as lê. Por uns instantes, à sexta à noite, a Leila Suleiman deixa de estar connosco e vai viver para um universo suave de praias e tapetes vermelhos, vai fazer compras à Califórnia e aos estábulos da gente fidalga.» 

In David Greig, Cantigas de Uma Noite de Verão (uma peça de amores e desamores) e outras peças, tradução de Pedro Marques, Livrinhos de Teatro, Artistas Unidos/Cotovia, Janeiro de 2010.

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