Fogem as neves frias
Dos altos montes quando reverdecem
As árvores sombrias;
As verdes ervas crecem,
E o prado ameno de mil cores tecem.
Suas setas Amor afia agora;
Progne triste suspira
E Filomela chora;
O Céu da fresca terra se namora.
Vem, do coro das ninfas rodeada;
A branca Pasiteia,
Despida e delicada,
Com as duas irmãs acompanhada.
Dos Ciclopas Vulcano está queimando,
Vão colhendo boninas
As ninfas e cantando,
A terra co ligeiro pé tocando.
Diana, já cansada da espessura,
Buscando a clara fonte,
Onde, por sorte dura,
Perdeu Actéon a natural figura.
A verde Primavera e o seco Estio;
O Outono vem entrando;
E logo o Inverno frio,
Que também passará por certo fio.
Com a frígida neve o seco monte;
E Júpiter, chovendo,
Turbará a clara fonte;
Temerá o marinheiro a Orionte.
Não sabe o tempo ter firmeza em nada;
E nossa vida escassa
Foge tão apressada,
Que quando se começa é acabada.
Heitor temido, Eneias piedoso?
Consumiram-te os anos,
Ó Creso tão famoso,
Sem te valer teu ouro precioso.
Crias que estava em ter tesouro ufano?
Oh! falso pensamento,
Que, à custa de teu dano,
Do sábio Sólon creste o desengano.
Não dura por possante, nem por forte;
Que a bem-aventurança
Durável de outra sorte,
Se há-de alcançar na vida pera a morte.
Contra o terrível fim da noute eterna;
Nem pode a deusa casta
Tornar à luz superna
Hipólito da escura sombra averna.
Ou com manha, ou com força valerosa
Livrar pode o ousado
Pirítoo da espantosa
Prisão leteia, escura e tenebrosa.
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