AS CARTAS DE AMOR DA MINHA AVÓ MATERNA
Esta noite não há estrelas
além das da memória.
Porém, quanto espaço resta para a memória
no espartilho da chuva suave?
Ainda resta espaço suficiente
Para as cartas da mãe de minha mãe,
Elizabeth,
Há tanto comprimidas
Num canto do telhado
Que ficaram castanhas e moles,
Passíveis de derreter como a neve.
Sobre a grandeza de tal lugar
Os passos devem ser gentis.
Tudo está preso por um cabelo branco invisível.
Treme como galhos de bétula tecendo o ar.
E eu pergunto-me:
“São os teus dedos suficientemente compridos
Para tocar velhas teclas que não passam de ecos:
Será o silêncio suficientemente forte
Para devolver a música à sua raiz
E trazê-la de novo para ti
Como se fosse para ela?”
No entanto, levaria minha avó pela mão
Através do muito que ela não entenderia;
Então tropeço. E a chuva continua no telhado
Soando como um riso gentilmente piedoso.
*
HIEROGLÍFICO
Alguém olhou para o que viu
Ou alguém viu o que olhou?
Hart Crane, in "The Complete Poems of Hart Crane -
The Centennial Edition", introduction by Harold Bloom, edited by Marc
Simon, Liveright, 2000, p. 189. Versões de HMBF.
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