sábado, 16 de março de 2024

DOIS POEMAS DE HART CRANE

 


AS CARTAS DE AMOR DA MINHA AVÓ MATERNA

Esta noite não há estrelas
além das da memória.
Porém, quanto espaço resta para a memória
no espartilho da chuva suave?

Ainda resta espaço suficiente
Para as cartas da mãe de minha mãe,
Elizabeth,
Há tanto comprimidas
Num canto do telhado
Que ficaram castanhas e moles,
Passíveis de derreter como a neve.

Sobre a grandeza de tal lugar
Os passos devem ser gentis.
Tudo está preso por um cabelo branco invisível.
Treme como galhos de bétula tecendo o ar.

E eu pergunto-me:

“São os teus dedos suficientemente compridos
Para tocar velhas teclas que não passam de ecos:
Será o silêncio suficientemente forte
Para devolver a música à sua raiz
E trazê-la de novo para ti
Como se fosse para ela?”

No entanto, levaria minha avó pela mão
Através do muito que ela não entenderia;
Então tropeço. E a chuva continua no telhado
Soando como um riso gentilmente piedoso.

*

HIEROGLÍFICO

Alguém olhou para o que viu
Ou alguém viu o que olhou?

Hart Crane, in "The Complete Poems of Hart Crane - The Centennial Edition", introduction by Harold Bloom, edited by Marc Simon, Liveright, 2000, p. 189. Versões de HMBF.

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