sábado, 16 de março de 2024

PARA LER NA ÍNTEGRA

Há hoje várias indústrias a funcionar no contínuo político-mediático — ou seja, políticos, jornalistas, “jornalismo” politizado, porta-voz de interesses e políticas, jornalistas-comentadores e comentadores —, das quais saliento três com grandes fábricas: a indústria de lugares-comuns, a indústria do tomar à letra, e a indústria das contradições. Depois, tudo é amplificado pelo rebanho ou pela matilha, depende das simpatias do bicho, que pode ser ovelha ou ser lobo. O contexto, a atmosfera, a ecologia é do crescente investimento num jornalismo politizado, que começa de manhã, depois circula o dia todo nas rádios e televisões e, por muito que isso indigne os próprios, é hoje maioritariamente, e muito, de direita. Quando há gente do PS, são os PS fofinhos que estão sempre prontos para querer aquilo que é, no seu entender, “moderação” com a direita.

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A politização do jornalismo nem sempre é resultado da volição política do jornalista; pode ser um efeito do rebanho ou da alcateia, mas é hoje tão comum que ninguém diz “Pára aí” ou “O rei vai nu”. A profunda identidade entre os relatos jornalísticos e a agenda da direita foi evidente quanto à “crise dos serviços públicos”. Significa que houve “crise”? Sem dúvida, mas teve o alcance dramático com que se relatou? Não. Usaram-se muitas vezes casos pontuais para “alimentar”, dia após dia, a ideia da “crise”? Sim. As estatísticas mais sérias e sólidas confirmavam a agudeza da “crise”? Não. Esteve sempre presente a ideia às claras ou subliminar de que a “crise” se devia à “ideologia estatista” contra os privados? Claro que esteve, é aí que os jornalistas politizados saem do seu casulo matinal para disseminar as suas posições políticas como comentadores e que, se fosse num país anglo-saxónico, se identificariam como apoiantes de A ou B, para que o que dizem trouxesse a tão falada transparência. E muitos dados pertinentes, como seja a comparação entre os tempos de espera dos hospitais privados e os públicos, nunca tiveram nenhum papel na “informação”.

Excelente artigo de José Pacheco Pereira, no Público.

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