sexta-feira, 5 de julho de 2024

LAMENTO PELA TADINHICE

 


Se existe essa coisa a que chamam identidade nacional, então ela está aqui representada na sua máxima eloquência. Seja no futebol, seja na política, seja na cultura, a tadinhice do menino chorão é o que melhor caracteriza essa raça melancólica e nostálgica que dá pelo nome de povo português. Somos um lamento. Também somos lamentáveis, mas enquanto lamento ninguém nos bate. Na pedinchice, na vitimização, no paternalismo moralista, até nessa famigerada tendência para a caridade, somos este fado triste de lágrimas de mão estendida. A figura triste de toda uma equipa a confortar o seu capitão, coitadinho, pobrezinho do menino, precisa de mimo, o menino da mamã, é todo um programa. Não houve ali ninguém que tivesse dado um murro na mesa, nunca há, para tornar claro o evidente: com crocodilos amorosos não vamos a lado nenhum. Já não se vê tanto nas casas portuguesas como se via, mas está colado às paredes como bolor, o salitre da nossa indigência, o menino triste, chorão, o coitadinho que se transformou na nossa pele colectiva. Em vez da esfera armilar devia estar esta cara no centro da bandeira, no hino não marcharíamos, choraríamos, chorões que somos, pobres coitados, bebés de colo a pedirem mimo à Europa ou à puta que os pariu. Vai dar ao mesmo. Que porra triste, isto de nascer, viver e muito provavelmente vir a morrer num vale de lágrimas onde nidificam 10 milhões de velhos do Restelo.

3 comentários:

Ivo Martins disse...

10 milhões é exagero. Uma dessas choronas perante a Angolana que está na consulta de pré parto no Hospital Beatriz Ângelo pergunta do alto do seu magistério se "acha correto o que está a fazer? Vir usufruir do SNS sem nunca ter descontado para tal". Outra dessas choronas no Hospital Amadora Sintra recusa fazer o registo de um recém nascido filho de um casal Brasileiro porque "só querem os documentos". Estas choronas têm que descarregar em alguém. E podia continuar o relato com choronas e chorões deste país. Ouvir de viva voz estes estrangeiros, mais portugueses que muitos cá nascidos, dizer que preferem ir embora do que por cá continuar é no mínimo irónico.

hmbf disse...

Ó Ivo, deixe lá isso dos estrangeiros. Não somos todos cidadãos do mundo? Não somos todos seres humanos? Não merecemos todos, por sermos humanos, a mesma dignidade? Também há muito imigrante por cá a trabalhar, alguns em situação de pura exploração laboral, que dão o seu contributo para a SS. E a turistada que vem deixa guito, muitos comendo porcaria. Ser português lá fora não é mais nem menos difícil do que ser estrangeiro cá dentro.

Ivo disse...

Não sei se entendi a resposta e não sei se o Henrique entendeu o meu comentário! Que se lixe. Vou continuar a ler a Domesticadora.