“Carnet de Routes”, Romano, Sclavis, Texier.
Na noite de 28 de Outubro de
2000 fui ao Fórum Cultural do Seixal ver e ouvir o Louis Sclavis Trio. Culpa deste
“Carnet de Routes” (1995), música de viagens para três instrumentistas e um fotógrafo.
A ideia de uma tournée pela África Central partiu de uma proposta do fotógrafo
Guy Le Querec ao baterista Aldo Romano, a quem se juntaram Henri Texier no
contrabaixo e Louis Sclavis no clarinete e saxofone soprano. O resultado é um
disco absolutamente excepcional onde ecoam as paisagens rítmicas do Senegal, do
Chade, da República Popular do Congo, do Gabão, dos Camarões, da Guiné
Equatorial, da Nigéria, do Burkina Faso, do Gana, devidamente ilustradas pela
Leica de Guy Le Querec. Uma viagem no espaço, portanto, ao encontro de uma
África de que ouvimos falar quase sempre pelas piores razões. O registo
fotográfico mostra-nos os músicos em acção nos lugares mais inesperados, por
vezes improvisando com artistas locais em aldeias, no deserto, rodeados de um
público que dança e sorri. O ambiente no Seixal era outro, estávamos todos
sentados, emproados, atentos às melodias e aos ritmos que pareciam querer
rebentar com as paredes e misturar-se com o ar das ruas. Este disco não é um mero
disco, é o testamento de um encontro com o diverso, de como é possível esse
encontro quando a arte desbrava o caminho. Melhor é impossível.
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