segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

50 X 16

 


“Carnet de Routes”, Romano, Sclavis, Texier.
 
Na noite de 28 de Outubro de 2000 fui ao Fórum Cultural do Seixal ver e ouvir o Louis Sclavis Trio. Culpa deste “Carnet de Routes” (1995), música de viagens para três instrumentistas e um fotógrafo. A ideia de uma tournée pela África Central partiu de uma proposta do fotógrafo Guy Le Querec ao baterista Aldo Romano, a quem se juntaram Henri Texier no contrabaixo e Louis Sclavis no clarinete e saxofone soprano. O resultado é um disco absolutamente excepcional onde ecoam as paisagens rítmicas do Senegal, do Chade, da República Popular do Congo, do Gabão, dos Camarões, da Guiné Equatorial, da Nigéria, do Burkina Faso, do Gana, devidamente ilustradas pela Leica de Guy Le Querec. Uma viagem no espaço, portanto, ao encontro de uma África de que ouvimos falar quase sempre pelas piores razões. O registo fotográfico mostra-nos os músicos em acção nos lugares mais inesperados, por vezes improvisando com artistas locais em aldeias, no deserto, rodeados de um público que dança e sorri. O ambiente no Seixal era outro, estávamos todos sentados, emproados, atentos às melodias e aos ritmos que pareciam querer rebentar com as paredes e misturar-se com o ar das ruas. Este disco não é um mero disco, é o testamento de um encontro com o diverso, de como é possível esse encontro quando a arte desbrava o caminho. Melhor é impossível.

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