Que faríamos se nos revelassem termos apenas um mês de vida pela frente? Talvez antecipássemos a morte, talvez procurássemos prepará-la, preparando-nos a nós e aos outros para o facto, talvez desatássemos a correr até cairmos para o lado, talvez nos enchêssemos de ódio e déssemos cabo de tudo o que se nos deparasse pela frente, talvez preferíssemos mergulhar nos sinuosos prazeres da luxúria até que o coração dissesse pára. Talvez fizéssemos como Romain, personagem central do filme O Tempo que Resta, de François Ozon, que perante a inadiabilidade da morte procurou reconquistar alguma paz interior revisitando os lugares da infância, fotografando o tempo que lhe restava. Geralmente as fotografias são registos de um tempo passado, no caso surgem quase como apreensões de um tempo que ainda está para acontecer. Alguém que regista os seus últimos momentos, sabendo que vai morrer, é, de certa maneira, alguém que se antecipa ao futuro. Ou então é alguém que procura ver o mundo por uns olhos que até então lhe escaparam. Por que outra razão registaria assim o mundo alguém que soubesse ir morrer daí a nada?
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