terça-feira, 9 de julho de 2013

SE THOMAS MANN FOSSE VIVO, SUICIDAVA-SE

No jardim zoológico de uma cidade do Oeste deram, no decurso de uma doença, uísque a beber a um tigre como remédio, e o feroz animal desenvolveu uma tal predilecção pela bebida que mesmo depois de curado não quer que lhe falte e exige todos os dias a sua dose de uísque. - Isto está escrito no nosso jornal de bordo, para além de outras informações semelhantes. Certamente é uma notícia aprazível. Não será em vão que se contou com a nossa simpatia alegremente compreensiva para o tigre tão dado ao álcool. Ainda assim, não estaremos aqui perante uma espécie de abuso? Um milagre da técnica como a telegrafia radiofónica é chamado a transportar novidades destas por cima da terra e das ondas do mar. Ai, a humanidade! O seu progresso intelectual e moral não conseguiu acompanhar o técnico, ficou muito para trás, aqui se vê uma vez mais, e a descrença em que o seu futuro possa ser mais feliz que o seu passado é desta fonte que se alimenta.
 
Thomas Mann, in Viagem Marítima com Dom Quixote, trad. Lumir Nahodil, Publicações Dom Quixote, Setembro de 2008, p. 92.

4 comentários:

hmbf disse...

o futuro deu-te razão

redonda disse...

Gostei muito deste livro.

hmbf disse...

também gostei

Anónimo disse...

...no outro dia senti esse desfasamento com tanta força, que dei por mim agachado no campo a esfregar dois pauzinhos só para ver se conseguia fazer fogo.
De imediato percebi que estava longe do o conseguir, talvez por não ter a necessidade real ou mesmo porque pertenço já ao género de primatas do futuro que é o homobrutus...Ui, este é desses assuntos que traz muito sumo. Boa anotação Henrique.

Abraço