PCP e BE são criticados, com justificação, por serem ou
terem sido ambíguos em relação ao percurso de demagogia, autoritarismo e
populismo que se tem percorrido na Venezuela desde os tempos de Chávez até ao
colapso da democracia venezuelana com Maduro. Com igual razão se pode criticar
PS e CDS (sob um governo com o PSD) por terem fechado os olhos a essa deriva em
nome dos negócios. Mas nenhum desses partidos partilha organizações
partidárias, grupos parlamentares, candidatos e plataformas com Maduro ou Chávez.
Ora, Rangel partilha tudo isso com Viktor Orbán da Hungria. O seu partido
europeu é o partido de Viktor Orbán. O seu grupo parlamentar é o grupo
parlamentar dos deputados de Viktor Orbán, a começar por Jószef Szájer, que é
colega vice-presidente do PPE com Rangel, e foi o autor confessado das
alterações constitucionais que iniciaram o desfazer do Estado de Direito na
Hungria. O candidato de Paulo Rangel para presidente da Comissão Europeia é não
só o mesmo que Viktor Orbán apoia, o político bávaro Manfred Weber, como
esse candidato tem sido dentro do PPE o grande apoiante tácito de Orbán. E a
tudo isto Paulo Rangel fecha os olhos ou critica apenas na medida do mais
conveniente possível.
(…) A degradação do Estado de Direito na Hungria tem
consequências diretas para nós e precedeu e contaminou tudo o que se tem
passado na Polónia, na Roménia, na Eslováquia, em Malta e por aí adiante.
Só desde que Rangel se senta com o Fidesz de Orbán no
Parlamento Europeu, a constituição húngara foi alterada dezenas de vezes, a lei
eleitoral modificada para garantir maiorias constitucionais a Orbán, os
tribunais foram decapitados, uma campanha de fundo anti-semita foi iniciada
para criar um “inimigo interno” em George Soros, jornais e rádios foram
encerrados, uma universidade foi forçada a sair do país, etc. Este último
exemplo é particularmente importante porque Manfred Weber em tempos anunciou
que essa seria a “linha vermelha” em relação à continuidade de Orbán dentro do
PPE. A linha vermelha foi violada, e nada aconteceu.
Rui Tavares, aqui.
2 comentários:
Acabei de ler este artigo do Rui Tavares no Público e está muito bom!
O Rangel é mesmo um hipócrita sempre com o dedo apontado aos outros.
Abraço
Se não for o Rangel, há sempre um hipócrita para os companheiros de estrada.
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