“Zeca Afonso no Coliseu”: José Afonso.
O meu primeiro Zeca foi, por assim dizer, o último Zeca: “Como
se Fora Seu Filho” (1983). Deixo “Galinhas do Mato” (1985) de fora da
contabilidade, que é já outra coisa. Do LP de 83 havia lá por casa um exemplar
em vinil, o que me permitiu crescer a ouvir “Papuça” ou “O País Vai de Carrinho”
sem ter ainda consciência política do que ouvia. Apanhava umas coisas. Mais
tarde, já no tempo dos CDs, também apareceram lá por casa “Os Vampiros”, que
era praticamente todo de fados de Coimbra. 83 foi o ano do espectáculo
derradeiro no Coliseu dos Recreios, que vi na RTP e mais tarde, dez anos
depois, adquiri no formato CD duplo. Gravação péssima à qual, ainda assim, regressei
vezes sem conta. Tudo isto foi antes de tentar tocar na guitarra as canções de
José Afonso, ficando sempre aquém do mínimo desejado, ou de ter descoberto a
lírica excepcional de um músico raro. José Afonso tornou-se uma referência para
lá de qualquer bandeira ideológica, porque o que nele me alimenta é o desejo de
liberdade das cabeças que pensam por si mesmas sem se submeterem a dogmas. Nesta
música vislumbrei pela primeira vez um continente sem fronteiras, com as raízes
de árvores diversas a misturarem-se sob uma terra fértil de ritmos, melodias,
paisagens diversas mas não divergentes. Aquela cidade sem muros nem ameias de “Utopia”
é onde faço questão de morar.
1 comentário:
Que o Zeca tenha morrido como morreu, revela o povo pequeno que conseguimos ser.
Enviar um comentário