quinta-feira, 19 de setembro de 2024

50 X 2

 


“Zeca Afonso no Coliseu”: José Afonso.
 
O meu primeiro Zeca foi, por assim dizer, o último Zeca: “Como se Fora Seu Filho” (1983). Deixo “Galinhas do Mato” (1985) de fora da contabilidade, que é já outra coisa. Do LP de 83 havia lá por casa um exemplar em vinil, o que me permitiu crescer a ouvir “Papuça” ou “O País Vai de Carrinho” sem ter ainda consciência política do que ouvia. Apanhava umas coisas. Mais tarde, já no tempo dos CDs, também apareceram lá por casa “Os Vampiros”, que era praticamente todo de fados de Coimbra. 83 foi o ano do espectáculo derradeiro no Coliseu dos Recreios, que vi na RTP e mais tarde, dez anos depois, adquiri no formato CD duplo. Gravação péssima à qual, ainda assim, regressei vezes sem conta. Tudo isto foi antes de tentar tocar na guitarra as canções de José Afonso, ficando sempre aquém do mínimo desejado, ou de ter descoberto a lírica excepcional de um músico raro. José Afonso tornou-se uma referência para lá de qualquer bandeira ideológica, porque o que nele me alimenta é o desejo de liberdade das cabeças que pensam por si mesmas sem se submeterem a dogmas. Nesta música vislumbrei pela primeira vez um continente sem fronteiras, com as raízes de árvores diversas a misturarem-se sob uma terra fértil de ritmos, melodias, paisagens diversas mas não divergentes. Aquela cidade sem muros nem ameias de “Utopia” é onde faço questão de morar.

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