quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A EVIDÊNCIA




Desejaria que nenhuma exaltação
acompanhasse esta frase meus filhos
sentavam-se a ver o mar.

Assim era sem dúvida.
A cada noite chegavam em silêncio
e sem qualquer esforço vinculavam o mar
com a contemplação do mar,
a emoção com os objectos.
E sem dificuldade aceitavam a harmonia
que une os corpos à matéria afectada.

Era fácil saber que do mar
lhes chegava uma prova que nos excluía.
Mas por aqui me fico:
não se trata de encher com vacuidades  
o conhecimento directo.
(Um romantismo antiquado, ou um pouco
de pudor caduco, ainda é tolerável.
A metafísica não.)

Santiago Sylvester (n. 1942), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 362.

1 comentário:

Marina Tadeu disse...

ahahah. Obrigada Henrique significando apenas que agradeço a versão deste que, claro, desconhecia.