No café também se discute sobre os debates. A Dona Otília
garante que é verdade, ninguém gosta mais de animais do que o Ventura. Quitéria
sublinha: "pudera, com 49 macacos atrás dele..."
antologia do esquecimento
terça-feira, 8 de abril de 2025
segunda-feira, 7 de abril de 2025
DEBATES
Aos debates, segue-se um batalhão de comentadores que
avalia e treslê e opina e se diverte. Não são candidatos a nada, mas é como se
fossem porque o protagonismo é deles. Alguns terão carteira de jornalista, mas
não se entende porquê. Talvez nas horas vagas dispam o fato de estrelas do
comentariado e façam, de facto, jornalismo, actividade que, estou em crer, é
mais qualquer coisa do que comentar debates e dar notas a políticos. Também
nesta matéria o espectáculo engoliu-nos, o entretenimento impôs-se. É isto a
americanização do mundo. Trump tem razão, esta gente devia pagar direitos de
autor pelos modelos decalcados nesse bastião da democracia que nunca como hoje
foi tão claramente prenunciador do futuro que nos aguarda.
domingo, 6 de abril de 2025
LEITURA COMBINATÓRIA
1
entram no ninho por um lado põem os ovos
saem por outro tiram os que lá estavam
cucos profissionais são maioria absoluta
Alberto Pimenta, in Autocataclismos, Pianola, Março de 2014, s/p.
sábado, 5 de abril de 2025
BIMBY
Acabei de ver um vídeo por aqui partilhado onde são
exibidos os momentos finais de um festival literário, com os convivas em grupo
a gritarem "poesia, poesia". Não é muito diferente de outro que
partilhei há tempos, em que era possível apreciar o termo de uma convenção de
vendedoras de bimbys. Neste último só vi mulheres, era mais interessante.
Outros vídeos similares encontramos em rituais de igrejas para todos os gostos.
Na verdade, hoje em dia tudo se mistura e confunde. Entre poetas, vendedoras de
bimbys e evangélicos não existe grande diferença. Participam todos, igualmente,
dessa comunhão afectiva que reúne indivíduos em torno de um mesmo objecto, seja
ele o filho de Deus, a Bimby ou a Poesia. Dão as mãos, cantam, dançam,
convivem. O que importa é distrair a mente e acalentar corações, entreter os
espíritos numa lógica de confraternização que nos proteja das panelas de
pressão desta vida.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
UMA LIÇÃO DE LAO TZU
75. GANÂNCIA
As pessoas estão famintas.
Os ricos devoram impostos,
é por isso que as pessoas estão famintas.
As pessoas revoltam-se.
Os ricos oprimem-nas,
é por isso que as pessoas se revoltam.
As pessoas mantêm a vida barata.
Os ricos tornam-na muito cara,
é por isso que o povo a mantém barata.
Mas aqueles que não vivem por viver
valem mais do que os que procuram a riqueza.
Lao Tzu, in "Tao Te Ching", versão comentada de
Ursula K. Le Guin, trad. Paulo Borges, Farol, Outubro de 2022, p. 100. Diz quem
sabe que este livrinho terá sido escrito lá pelos idos de 300 a.C.
quinta-feira, 3 de abril de 2025
FILHO DA MÃE
Trago-te boas novas, anuncia o Pedagogo a Clitemnestra.
E que boas novas são essas?, pergunta ela.
Orestes está morto, revela o Pedagogo.
E que boas novas são essas?, pergunta ela.
Orestes está morto, revela o Pedagogo.
Talvez venha daqui a expressão "filho da mãe".
DE MÁ CONDIÇÃO
Calhou assim, não foi propositado. Chegou-nos ontem, Dia
Mundial da Árvore e da Poesia, este segundo volume da Colecção Insónia. O
primeiro foi "A Dança das Feridas". Esperámos 13 anos por ele, eu, a Maria
João Lopes Fernandes e o Pedro Serpa.
Tal como aconteceu no passado, também deste volume não
farei apresentações públicas nem distribuição pelas livrarias. Trata-se de uma
edição única, minha e da Maria João - autora das pinturas na capa e no
interior, originais concebidos para este efeito -, que em nenhuma circunstância
deverá ser objecto de qualquer reedição.
Quem tiver interesse num exemplar, poderá contactar-nos,
a mim ou à Maria João, por Messenger (Facebook, Instagram) ou email. O meu
email é fialho.henrique@gmail.com. O valor de capa, com portes incluídos, é 10€.
São 78 poemas e 9 reproduções de pinturas da Maria João Lopes Fernandes. O
design e a composição é do Pedro Serpa.
Em memória de minha mãe, Clarisse Maria Tavares Bento.
Saúde.
quarta-feira, 2 de abril de 2025
CULPA
À esquerda
a culpa é do neoliberalismo
À direita
a culpa é do wokismo
Ao centro
a culpa é periférica
Na periferia
a culpa é central
Solteira
a culpa morre virgem
Casada
a culpa vive impoluta
a culpa é do neoliberalismo
À direita
a culpa é do wokismo
Ao centro
a culpa é periférica
Na periferia
a culpa é central
Solteira
a culpa morre virgem
Casada
a culpa vive impoluta
A culpa nunca tem culpa
porque a culpa é sempre
de quem não a tem
E quem tem culpa
nunca é culpado de a ter
porque há sempre alguém
que ninguém sabe quem
capaz de ser o culpado
pela culpa que ninguém tem
Epifânio Carmino, "Pois ias".
terça-feira, 1 de abril de 2025
PARA QUÊ?
Mais um exemplo para envergonhar os bibinistas, tivessem
eles vergonha na cara. Nas televisões, nada disto interessa. Para quê?
CARTA A ERIC WALKER
Aqui, no reino da mediocridade
a ignorância é método
o preconceito é ciência
e a hipocrisia religião
De joelhos, os guardiões do templo
tiram retratos boçais
que partilham em rede
para gáudio de velhos tiranos
ressuscitados por todo o lado
Somos estrelas
nesta pop globalizada
que o grande irmão vigia
Estrelas decadentes
de impérios à deriva
guiados por oligarcas
empreendedores
multimilionários
a salvo do fisco
e do sono dos justos
Adormecidos, os humilhados
e os ofendidos assistem
impávidos e serenos
ao levantamento dos mortos
que da América à Turquia
dão lustro à barbárie
No reino da mediocridade
andamos todos satisfeitos
por termos milhares de amigos
com quem podemos partilhar
gostos e não mais do que gostos
quando a fome aperta
e a sede nos empurra para festas
feiras e festivais
Isto aqui vai indo num contentamento
já nem descontente nem com tento
Tudo tão influente
que até parece rico
a bem da indústria dos ansiolíticos
e do tráfico de indulgências
Epifânio Carmino, "Epístolas".
DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS
Os 14 contos de Domesticadora de Girassóis, mais
extensos do que é habitual neste autor, exploram universos fantasmagóricos com
personagens que tentam equilibrar-se entre o real e o imaginário. O que há de
anómalo e de paradoxal nas situações recriadas encontra na multiplicidade
formal, que vai da ficção narrativa ao poético, da crónica ao drama, do relato
autobiográfico à prosa ensaística e ao diário, vias de expressão para seres
cuja existência está em permanente conflito com um mundo onde a separação entre
caos e ordem perdeu qualquer sentido.
236 páginas
Maio de 2024
Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
Também disponível
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Também disponível
na Snob: https://www.livrariasnob.pt/product/domesticadora-de-girassois ;
na Wook: https://www.wook.pt/livro/domesticadora-de-girassois-henrique-manuel-bento-fialho/30047346
;
na Bertrand: https://www.bertrand.pt/livro/domesticadora-de-girassois-henrique-manuel-bento-fialho/30047346
;
na Livraria Almedina: https://www.almedina.net/domesticadora-de-girass-is-1717207529.html
...
segunda-feira, 31 de março de 2025
UM POEMA DE ERIC WALKER
VERDE
Quando pensamos em cores, quando respiramos magia
consumimos natureza, conjecturamos,
olhamos para o talismã que nos fará bem.
O mesmo acontece com a política “verde”.
Por todo este país há uma floresta,
uma raiz verde,
não ideais que nos encurralem num paradoxo cego,
mas um movimento de erva que se alastra como um incêndio florestal
por todo o território.
A nossa Mãe é verde, verde é a Terra,
o verde cresce no meio do pó.
Canção verde do início da Primavera, o caule
e o carpelo são verdes, pétalas verdes
da flor mais silvestre de todas
as maçãs da mãe reinetas maduras e verdes,
numa tarte que é toda ela americana
emergindo da própria terra,
pessoas de t-shirts verdes, angariando assinaturas
num boletim verde.
O mundo recupera os sentidos,
já não vê vermelho.
Há trepadeiras a crescer sobre silos de cimento.
Um tufo de amoras cresce ao lado de uma central nuclear.
Ao longo de instalações devolutas de companhias eléctricas há cavalos e ovelhas a pastar
na terra verde
a América é verde.
Vota verde.
A floresta verdejante está de olho em nós.
Nós invadimos a natureza selvagem.
Com as nossas armas vimos apenas o pesadelo deste mundo.
Uma temporada negra num mundo negro onde a memória colapsou
Lembra-te da nossa Mãe verde, a Terra ama o verde.
Azul o céu e verde a erva.
Não podemos continuar a seguir Hitler.
A terra gira na sua órbita verde.
Eric Walker, in Poemas Escolhidos, trad. António
Gregório, intr. Raymond Foye, posf. Neeli Cherkovski, capa de Francesco
Clemente, Barco Bêbado, Setembro de 2023, p. 63. Da Introdução, Eric Walker
(1964-1994): «Aprendi a poesia a partir da observação da natureza», escreveu. O
desequilíbrio ecológico é uma das maiores preocupações da sua poesia, e no seu
último ano, ou talvez dois últimos anos de vida, tornou-se na sua principal
preocupação, após ter assistido à destruição horrenda das mais antigas
florestas de sequóias da Califórnia.
consumimos natureza, conjecturamos,
olhamos para o talismã que nos fará bem.
O mesmo acontece com a política “verde”.
Por todo este país há uma floresta,
uma raiz verde,
não ideais que nos encurralem num paradoxo cego,
mas um movimento de erva que se alastra como um incêndio florestal
por todo o território.
A nossa Mãe é verde, verde é a Terra,
o verde cresce no meio do pó.
Canção verde do início da Primavera, o caule
e o carpelo são verdes, pétalas verdes
da flor mais silvestre de todas
as maçãs da mãe reinetas maduras e verdes,
numa tarte que é toda ela americana
emergindo da própria terra,
pessoas de t-shirts verdes, angariando assinaturas
num boletim verde.
O mundo recupera os sentidos,
já não vê vermelho.
Há trepadeiras a crescer sobre silos de cimento.
Um tufo de amoras cresce ao lado de uma central nuclear.
Ao longo de instalações devolutas de companhias eléctricas há cavalos e ovelhas a pastar
na terra verde
a América é verde.
Vota verde.
A floresta verdejante está de olho em nós.
Nós invadimos a natureza selvagem.
Com as nossas armas vimos apenas o pesadelo deste mundo.
Uma temporada negra num mundo negro onde a memória colapsou
Lembra-te da nossa Mãe verde, a Terra ama o verde.
Azul o céu e verde a erva.
Não podemos continuar a seguir Hitler.
A terra gira na sua órbita verde.
domingo, 30 de março de 2025
QUATRO QUARTETOS
Depois da tradução de Gualter Cunha para
a Relógio D’água em 2004, eis-nos de novo perante os Quatro Quartetos de T. S. Eliot, agora numa tradução de Vergílio
Alberto Vieira para a Companhia das Ilhas. N.º 4 de uma nova chancela, os
livros Nanook, que dificilmente poderia ter melhor arranque. Originalmente
publicados em 1943, os Four Quartets
são um desses momentos nucleares na história da poesia que se aventura a pensar
o essencial erigindo o seu próprio mito da criação. O que Eliot nos propõe nos
quatro poemas do conjunto, cada qual dividido em cinco partes a que podemos dar
o nome de actos, é uma cosmogonia da modernidade, concebida entre os destroços ainda
fumegantes da II Grande Guerra. A epígrafe de Heraclito reenvia-nos para esse
tempo de reflexão acerca não só da criação do mundo, mas do Tempo enquanto
motor da História, do lugar do homem nessa engrenagem transformadora da
paisagem, metamorfose que impele uma reflexão acerca do princípio e do fim, dos
ciclos da natureza, dos mitos da regeneração, da morte que se faz vida que
tende para a morte. Poema filosófico, na tradição dos grandes clássicos, mas já
com essa pulsão moderna que dramatiza o humano no palco da ruína:
I
O
tempo que passou e o tempo que vem
Talvez estejam presentes no devir do tempo
E o tempo ainda por vir no tempo que passou.
Se todo o tempo é, pois, o tempo todo
Todo o tempo é nada
Todo o tempo é ninguém.
O que pudera ter acontecido não ocorreu
Continuando a ser imutável permanência
Num mundo improvável.
Já o que podia ter sido e o que veio a ser
Convergem para um único fim, infinitamente presente.
(in Burnt Norton)
No poema de Eliot ressoam os sete
princípios herméticos, a filosofia imiscui-se com uma ancestral tradição poética
— «In my beginning is my end» / «In my end is my beginning» — de renegação da
própria poesia enquanto salvação — «The poetry does not matter» — porque tudo
tem a morte por fim e «é do fim que se parte», a eternidade subsume-se na
vivência do momento que é, ele mesmo, agregador de toda a História. O Universo
cabe numa semente. Na semente está o mundo, o presente participa do passado e
do futuro, «A única ciência pela qual vale a pena lutar / É a da simplicidade:
a humildade é infinita.» Curioso como nesta leitura oferecida pela tradução de
Vergílio Alberto Vieira vem mais à tona, com clareza inusitada, a estrada larga
de Walt Whitman enquanto princípio fundador de uma poesia anglo-saxónica empenhada
em cogitar o lugar do homem no mundo, nesse mundo que é tanto o das construções
humanas como o das suas destruições, processo plasmado, desde logo, na imagem
da cidade que transforma a paisagem através da devastação da Natureza. Há uma
ética subjacente ao poema de Eliot que mergulha a humanidade no leito das águas
correntes, a água que corre no rio de Heraclito não é diferente dos povos que
circulam na estrada larga, tudo flui para um fim que é começo, o dissídio é a
força que se afirma na convergência, tal como em Empédocles o Amor e o Ódio, ou
a Discórdia, se explicam um ao outro enquanto motores da História:
III
Três condições não raro se entretecem
Apesar de nada se parecerem, e na sebe vicejarem:
Amor-próprio e abnegação às coisas e pessoas, desamor
Por si, e pelas coisas e pessoas; e entre ambas, nascendo, indiferença
Com as demais identificando-se como a morte à vida,
E que entre duas vidas cabe — incapaz de florir entre
A urtiga viva e a morta urtiga.
(in Little Gidding)
Mais sobre Eliot aqui: Prufrock and Other Observations, apontamento biobibliográfico, um poema, citação de uma conferência, mais uma citação, um artigo sobre duas paixões de Eliot.
Talvez estejam presentes no devir do tempo
E o tempo ainda por vir no tempo que passou.
Se todo o tempo é, pois, o tempo todo
Todo o tempo é nada
Todo o tempo é ninguém.
O que pudera ter acontecido não ocorreu
Continuando a ser imutável permanência
Num mundo improvável.
Já o que podia ter sido e o que veio a ser
Convergem para um único fim, infinitamente presente.
Apesar de nada se parecerem, e na sebe vicejarem:
Amor-próprio e abnegação às coisas e pessoas, desamor
Por si, e pelas coisas e pessoas; e entre ambas, nascendo, indiferença
Com as demais identificando-se como a morte à vida,
E que entre duas vidas cabe — incapaz de florir entre
A urtiga viva e a morta urtiga.
sábado, 29 de março de 2025
SENHOR DO LAR
Esta noite sonhei com um cemitério de palavras. Era
vasto, extenso, interminável. Cada palavra perecida tinha a sua laje de
mármore, com correspondente origem etimológica. Não havia referências a datas
de nascimento nem de morte, talvez porque ninguém saiba muito bem quando uma
palavra nasceu, em que momento começa a definhar e quando se faz cadáver.
Andava por ali a esmo, naquele cemitério labiríntico, com um ramo na mão, não
sei bem se em busca de uma palavra exacta ou na esperança de encontrar uma
qualquer palavra morta onde me apetecesse depositar o ramo de buxo. Às tantas
ajoelhei-me diante da campa onde fora enterrada a palavra lanfranhudo, mas não
depositei as flores. Ao lado fora enterrada a palavra ósculo, do latim
"osculum", diminutivo de "os" (boca), ou seja, literalmente
“bocadinha” ou “beijinho”. Foi aí que larguei o ramo, antes de eu próprio
acordar morto sob uma laje que dizia: Tugúrio, do latim tugus, relacionado com
estruturas simples feitas de materiais naturais, como palha, madeira ou barro, com
o sufixo -urium, comum no latim para indicar lugar. Tugurium seria algo como
“lugar coberto com palha”. Ri-me muito lá no fundo da terra onde haviam sido
depositados os meus restos mortais, pois Henrique vem do germânico Heimirich,
que significa "senhor do lar":
Heim = casa, lar
Ric(h) = governante, poder, rei
Senti-me um rei de palha, o que me deu gozo. Sobretudo
estando morto.
sexta-feira, 28 de março de 2025
CRIMES BONS
Vem nas notícias: "André Ventura admite ter
candidatos a deputados suspeitos e condenados na justiça, mas só por
determinados crimes que considera menos graves."
- Mestre, posso gamar malas de viagem em aeroportos?
- Não podes.
- Mestre, posso dar porrada no árbitro dos jogos do meu
filho?
- Podes.
- Mestre, posso pagar 20€ por bóbós a rapazinhos?
- Não podes.
- Mestre, posso eliminar mails à pazada do meu
ex-partido?
- Podes.
- Mestre, posso abusar sexualmente de uma aluna menor?
- Não podes.
- Mestre, posso chamar bandidos aos pretos?
- Claro que podes.
- Mestre, posso falsificar documentos com assinaturas de
mortos?
- Ora deixa cá ver... Bem... Por esta é que eu não
esperava.
- Mestre, tu és a luz, tu és a lei, tu nos dirás se
podemos ou não continuar a gamar esmolas na Igreja, a mentir descaradamente, a
faltar às pensões de alimentos, a difamar, a falsificar assinaturas... Grande
Mestre, tu és bué grande, tu és sábio, tu és o nosso guia, tu és o nosso
Senhor. Diz-me mestre, posso mijar contra o vento?
quinta-feira, 27 de março de 2025
QUATRO TESES DE ALBERTO PIMENTA
1.
O poeta
O poeta
pergunta,
mesmo quando
responde.
2.
O social
responde,
mesmo quando
pergunta.
3.
Quando o social
é a ideologia,
o poeta
é a utopia.
4.
Quando o social
é a utopia,
o poeta
é a ideologia.
(...)
Alberto Pimenta, in O Poeta e o Social. 40 teses seguidas de exercício para mestres e mestrandos e Os Portugueses Nunca Comungaram do Ideário Marxista - Instalação de Palavras em 6 Capítulos, Saguão, Abril de 2024.
CALADOS, ERAM POETAS
Infelizmente não é mentira: os Anjos quebraram o silêncio. E o Boaventura também. Um mal nunca vem só.
quarta-feira, 26 de março de 2025
JACARANDÁS
Hoje queria ter-me sentado a teu lado
mais ainda por ter-te visto aí sozinha
enquanto nas auto-estradas da ataraxia
choviam gostos sobre o teu gesto
Fiquei com vergonha de mim e dos meus
sentindo-me cada vez mais zombie
quando de frente para o mar
ou junto à campa da minha mãe me pergunto:
que faço eu aqui?
Acredita que desejei profundamente
sentar-me sob essas sombras trasladadas
a partilhar talvez um cigarro ou versos
ou palavras soltas sobre o tempo
que nos devora pela raiz
Também eu permaneci quieto
rodeado de livros
a viajar de um mictório até Shakespeare
coisas em que me meto ou me metem
não sei bem
Quero pedir-te perdão
mesmo não crendo em indulgências
e absolvições e expiações de pecados
Merecias que alguém estivesse a teu lado
um pelo menos desses 50 mil indignados
tão inócuos como lágrimas de crocodilo
transformado em carteiras e botas
saldadas num shopping onde porventura
estaria ocupada a multidão silenciosa
que te deixou sozinha
sentada sobre um monte de lama
mais ainda por ter-te visto aí sozinha
enquanto nas auto-estradas da ataraxia
choviam gostos sobre o teu gesto
sentindo-me cada vez mais zombie
quando de frente para o mar
ou junto à campa da minha mãe me pergunto:
que faço eu aqui?
sentar-me sob essas sombras trasladadas
a partilhar talvez um cigarro ou versos
ou palavras soltas sobre o tempo
que nos devora pela raiz
rodeado de livros
a viajar de um mictório até Shakespeare
coisas em que me meto ou me metem
não sei bem
mesmo não crendo em indulgências
e absolvições e expiações de pecados
um pelo menos desses 50 mil indignados
tão inócuos como lágrimas de crocodilo
transformado em carteiras e botas
saldadas num shopping onde porventura
estaria ocupada a multidão silenciosa
que te deixou sozinha
sentada sobre um monte de lama
terça-feira, 25 de março de 2025
PEIXEIRADA
José Rodrigues dos Santos, que anda há décadas a vender a banha da cobra a leitores que estão para o romance como os eleitores madeirenses para a seriedade, quis ter ontem o seu momento zénite diante o Secretário-Geral do Partido Comunista Português. Já o tinha feito com Marta Temido, recentemente, e noutras ocasiões que não vale a pena recordar. É useiro e vezeiro neste tipo de situações, tanto ele como o inenarrável Adelino Faria, duas criaturas no serviço público de informação que nunca estiveram à altura das suas responsabilidades. Não vale a pena puxar-lhes as orelhas com insultos nas redes e queixinhas a ERCs que para nada servem. A solução é simples, com aqueles dois não se fala porque não é possível falar. Só se ouvem a eles próprios. Portanto, que fiquem a falar sozinhos. Quem lhes dá emprego é que está mal. Querem peixeirada, vão vender peixe.
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