antologia do esquecimento
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
50 X 21
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
TRASLADAR
DE MÁ CONDIÇÃO
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
UM POEMA DE MIGUEL SERRAS PEREIRA
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS
236 páginas
Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
Também disponível
É PELO EXEMPLO QUE LÁ VAMOS
domingo, 5 de janeiro de 2025
UM POEMA DE M. PARISSY
sábado, 4 de janeiro de 2025
50 X 20
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
FEALDADE RICA
A verdade é que não queria ser uma dessas pessoas ricas que levam para casa 15900 € ao mês. É raro encontrar uma dessas pessoas que seja bonita, sensual, charmosa. É tudo gente feia. Terão também visto o vídeo de Musk com Trump na passagem de ano. Que coisa horrível. Parecem todos enclausurados naqueles fatos por certo caríssimos, tudo muito apertado, com calos nos pés. Não é que haja beleza na pobreza, a miséria também é feia. Mas esta fealdade é de outro tipo, é de gente sem gosto, repugnante, de gente que dança pessimamente e se incomoda com nódoas na farpela. É a fealdade da cagança. Isto tudo para dizer que o Rosalino é feioso. E o Montenegro também.
VÍTIMAS DE GUERRA
As notícias não enganam, somos um país de kamikazes rodoviários. A 16 de Dezembro lia-se por aí: "Portugal líder europeu da insegurança rodoviária. Quase 135 mil acidentes e 453 mortos este ano". Ainda não tinham sido contabilizados os 25 mortos durante as operações de Natal e Ano Novo. Há ainda mais de 2500 feridos com gravidade. A par da violência doméstica, aqui temos um indicador claríssimo da nossa falta de civismo. Num país que tem como referência dos desportos motorizados o choné do Pedro Lamy, não faltam ases do volante a conduzir sem carta, sob o efeito de álcool, agarrados ao telemóvel, em excesso de velocidade. O que se faz para mudar este cenário desastroso? Campanhas de prevenção. Fosse eu a mandar, passavam todos a conduzir papa-reformas.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2025
e. e. dickinson
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
OS INVISÍVEIS
Poeta, ensaísta, prosador, Nanni Balestrini (1935-2019) surge amiudadamente associado ao experimentalismo italiano, autor de uma obra vanguardista, quando ainda fazia sentido falar em vanguardas, militante ligado ao grupo Potere Operario. No prefácio a “Os Invisíveis” (Barco Bêbado, Setembro de 2024), originalmente publicado em 1987, o filósofo marxista Toni Negri fala de um “romance didáctico” sem deixar de levantar a questão que se impõe: «mas quem aprende com quem?» É um romance em que o autor parece dar testemunho da sua própria aventura militante, percorrida em 48 capítulos, divididos e vividos por quatro partes, sem qualquer pontuação. A louvável tradução de Pedro Morais mostra-nos, no entanto, como essa ausência de pontuação não dificulta em nada a leitura, antes lhe confere uma aceleração favorável aos eventos narrados, a agitação, o desassossego, a inquietação mobilizadores de jovens que a seguir ao Maio de 68 e pelos anos de 1970 adentro experienciavam uma enérgica vontade de mudar o mundo rompendo com os paradigmas instalados. Estamos a falar de experiências de ocupação, sabotagem, luta operária à revelia dos sindicatos oficiais, estamos a falar de guerrilha urbana: «generalizar a ofensiva significa radicalizar a insubordinação a qualquer hierarquia excitar a nossa criatividade destrutiva contra a sociedade do espectáculo sabotar as máquinas e as mercadorias que sabotam a nossa vida promover greves gerais selvagens de tempo indeterminado reunirmo-nos sempre em assembleia em todas as fábricas da separação eleger delegados sempre revogáveis pela base conectar constantemente todos os lugares de luta não descurar todos os meios técnicos úteis à comunicação libertada dar valor de uso directo a tudo o que tem valor de troca ocupar permanentemente as fábricas e os edifícios públicos organizar a autodefesa dos territórios conquistados e música para a frente» (p. 150). No turbilhão caótico de acontecimentos relatados, Balestrini dá conta das acções levadas a cabo por grupos informais, tentativas de organização colectiva, da prisão e dos motins no interior da prisão, das relações conflituosas com as instituições tradicionais, fossem elas a família, o poder judicial, as polícias, os partidos políticos, do julgamento, das lógicas de sobrevivência interna, dos códigos morais de grupo e das consequências de toda esta acção. Não sei se será exacto falar de um certo desencanto, embora algumas passagens nos levem a crer que sim: «(...) já não tínhamos nada para dizer já ninguém ia à sede agora todos os dias ocorria um novo desastre um que era detido outro que enlouquecia um que desaparecia outro que se suicidava todos desapareceram não havia mais nada para dizer e assim ficou tudo ali a encher-se de pó o transmissor o leitor de cassetes a aparelhagem o amplificador o microfone e a voz de China (...)» (p. 241). Nesta como noutras deste extraordinário romance, vislumbramos, pelo menos, uma problematização dos resultados alcançados que não precisa de reflexões complexas para se manifestar, ao mesmo tempo que nos leva a pensar no poder castrador das chamadas democracias liberais que, entretanto, parecem ter vencido sociedades amorfas com as suas promessas de conforto e bem-estar. Talvez a apatia se instale também como uma espécie de ressaca dessa agitação que no final do século XX redundou numa desconfiança das virtudes inerentes a diversas formas de luta, assim como da acomodação a uma sensação de impotência motivada, porventura, por uma insatisfação causada pela escassez de resultados objectivos quanto às aspiradas mudanças e transformações sociais. O próprio título do romance, “Os Invisíveis”, remete para essa dificuldade de atrair a atenção sobre reivindicações específicas, quase sempre geradora de actos de luta radicais tais como alguns dos que vamos observando actualmente nos chamados “movimentos climáticos” ou, mais recentemente, no assassinato de Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, por Luigi Mangione. Acto isolado? Veremos. É um romance, por isso, que lido à luz do nosso tempo recoloca questões determinantes acerca dessa tensão essencial entre as forças conservadoras e as diversas forças que, mais ou menos progressivas, têm as suas raízes num sentimento de injustiça e numa consciência profunda das assimetrias localizadas e globalizadas que espelham de um modo objectivo, não sujeito a percepções individuais, o desconcerto do mundo. O romance de Nanni Balestrini é um testemunho pungente e vital de um contexto de guerrilha mais ou menos informal, mas também do modo como essa guerrilha vai perdendo gás por fugas que o terrorismo de estado, a repressão policial, o terrorismo oficial, se encarregam de aproveitar para fazer implodir os movimentos de contrapoder. Capa e pinturas no miolo de Vera Matias.
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
50 X 19
segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
ADÍLIA LOPES (1960 - 2024)
IMPRESSÃO SUA
domingo, 29 de dezembro de 2024
50 X 18
"Por Este Rio Acima", Fausto
2024 foi o ano em que perdemos Fausto. Outras razões não houvesse, a trilogia iniciada com “Por Este Rio Acima” (1982), continuada com as “Crónicas da Terra Ardente” (1994) e finalizada com “Em Busca das Montanhas Azuis” (2011) seria mais do que suficiente para o lembrarmos pela eternidade dentro. Anda estranho o tempo, tudo parece para ontem, fugaz, efémero, tudo passa num instante e a gente nem dá por isso. As horas não têm a mesma lentidão, a pressa de chegar não sei onde acelerou-nos os dias, andamos todos numa correria danada para não sei que metas e objectivos e fins. Vejo as pessoas cansadas, vejo-as com olheiras de saturação a desenharem grandes sombras, eu próprio ando para aqui a pensar que ainda amanhã foi já ontem. Dantes não era assim, havia um vagar nas coisas e os mortos perduravam vivos mais do que esta sensação de agora ter sido há um século. Há dias, olhando para os que me morreram, parecia que tinha vivido mil anos dentro destes 50 parcos que foram, são, eram. Não sei se também deram por isso, mas este ano nem chegou a ser e... foi-se. É como se andássemos para aqui a singrar num útero em que não ata nem desata, uma pessoa nasce morta e vai-se desta sem sequer haver sido parido. Há em tudo uma transitoriedade cada vez mais acentuada. Regressar a Fausto ajuda-nos a retomar a “Peregrinação”, transporta-nos pela “História Trágico-Marítima”, aviva-nos a consciência de que já lá vão uns séculos valentes de história. Não sei se viemos ao mundo para outra razão, mas talvez esta de adiar os dias, protelar as horas, conquistar a lentidão demorada de um pensamento em espera, talvez esta seja uma boa razão. Sento-me, portanto, a degustar a trilogia: «Vou no espantoso trono das águas / Vou no tremendo assopro dos ventos / Vou por cima dos meus pensamentos».
sábado, 28 de dezembro de 2024
UM POEMA DE ROSA OLIVEIRA
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
O DESENCANTADOR
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
50 X 17
“Strange Days”, The Doors.
O concerto dos The Doors no Festival Marés Vivas de 2008 está entre as piores experiências da minha vida. Lá estavam Robby Krieger na guitarra e um inenarrável Ray Manzarek nas teclas, mas era como se não estivessem. Há bandas de covers que fariam melhor figura. Aquilo foi um cerimonial ao santo padroeiro Jim Morrison, sem qualquer interesse e, pior, completamente desprovido de bom senso. Bastar-lhes-ia tocar o reportório da banda e teriam o público conquistado. Em vez disso, adoptaram um espantalho que imitava o malogrado vocalista e poeta do quarteto enquanto Manzarek evocava o grande Deus com salvas absolutamente ridículas. Um momento lamentável que não beliscou o culto pela banda e o que representa numa vida que não teria sido a mesma sem “The End” ou “When the Music’s Over” como banda sonora. Não sei qual é o meu álbum prefiro dos The Doors, gosto de todos quase por igual. Até do malquerido “The Soft Parade” (1969), com aquela sumptuosidade nos arranjos oferecida por uma secção de sopros e de cordas. Li por aí que um incêndio arruinou o famigerado Morrison Hotel, capa do álbum homónimo de 1970. É assim a vida, quase tudo se desfaz em cinzas. Felizmente inventaram os gravadores, máquinas de viajar no tempo que nos ajudam a iludir o desespero de assistir impotentes à ruína do mundo.