O determinismo exerce uma forte atracção emocional:
bastante curiosamente, pode atrair o mesmo tipo de espírito que acredita nas
possibilidades ilimitadas da acção de planear. O determinismo parece dar grande
alento e, por vezes, assomos de energia àqueles que são capazes de se convencer
a si próprios de que o que querem que aconteça vai de qualquer modo acontecer,
e àqueles que gostam de sentir que vão ao sabor da maré: e todos temos ouvido
dizer, de vez em quando, que a liberdade se encontra unicamente na aceitação da
necessidade — embora também seja próprio do intelecto humano suspeitar que isto
esconde, algures, um ardil. Devia, porém, ser igualmente óbvio para toda a
gente, devido à experiência pessoal, que não há nenhuma fórmula para um
vaticínio infalível; que tudo o que fazemos terá algumas consequências
imprevistas; que os nossos empreendimentos mais bem fundamentados terminam
frequentemente em desastre, e que por vezes os nossos disparates mais absurdos têm os resultados mais felizes; que
toda a reforma conduz a novos abusos que não podiam ter sido preditos, mas que
não justificam necessariamente dizermos que a reforma não devia ter sido
executada; que temos de nos adaptar constantemente ao novo e ao inesperado; e
que sempre nos movemos se não no escuro, num crepúsculo, com visão imperfeita,
trocando constantemente um objecto por outro, imaginando obstáculos distantes onde
nenhum existe e ignorantes de alguma ameaça fatal ai à mão. Isto é Endless
Adventure, de Frederick Scott Oliver.
T. S. Eliot, de uma conferência intitulada A Literatura da Política, proferida durante um Almoço Literário organizado pela London Conservative Union, em 19 de Abril de 1955, in Ensaios Escolhidos, selecção, tradução e notas de Maria Adelaide Ramos, Edições Cotovia, 1992, p. 208.
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