sábado, 26 de setembro de 2009

CALÇA DE FLANELA BRANCA


T. S. Eliot nasceu no Missouri a 26 de Setembro de 1888. Foi o mais novo de sete irmãos. Os pais eram gente esclarecida e bem instalada, tendo apenas o pequeno Eliot sido importunado na infância por uma hérnia. Estudou, estudou, estudou e não mais parou de estudar. Chegou a Harvard em 1906, onde conheceu Emily Hale. Sabemos mais da importância da descoberta de um livro, The Symbolist Movement in Literature, do que da descoberta de um primeiro amor. Mas com Emily voltará a encontrar-se muitos anos mais tarde, em Burnt Norton. Só mesmo a escarlatina ia conseguindo interromper-lhe a vocação intelectual. Passou um ano na Sorbonne, e em 1911 deu por concluída uma versão de The Love Song of J. Alfred Prufrock: «E se eu puxar atrás o risco do cabelo? Arrisco-me a trincar um pêssego? / Hei-de vestir calça de flanela branca e passear na praia» (trad. João Almeida Flor). Mas antes de se fazer às praias, regressou a Harvard para estudar filosofia. Disserta sobre Bergson, inclina-se para o pensamento oriental, volta à Europa. É neste regresso, em 1914, que trava conhecimento com Ezra Pound. Pound há-de criticar-lhe os versos e rasurar-lhes os poemas, manterão estreita e profícua colaboração: «A obra de Eliot não se confunde com a dos muitos escritores novos que não souberam tirar partido das liberdades do presente, que não adquiriram novos rigores de linguagem nem variedade na sua cadência». Não sabemos a que novos se referia Pound, mas estamos certos de que eram muitos e de que deles não reza a história. E porque um homem não é só livros, Eliot casa abruptamente, em 1915, com a dançarina Vivienne Haigh-Wood. Os pais do poeta ficam em estado de choque quando recebem a notícia, o próprio Eliot ficará em estado de choque a breve trecho. Bertrand Russell, que não era flor que se cheirasse, dá-lhes de guarida e torna-se muito chegado da bela Vivienne. Lá está novamente o Sr. Eliot imerso nos estudos. Agora é Bradley o alvo das reflexões. Não pára. Ganha a vida como professor e, posteriormente, como banqueiro no Lloyds Bank. Prufrock & Outras Observações é publicado em 1917 com o suporte financeiro de Ezra and Dorothy Pound: «Não sabes quanto eu prezo os meus amigos / E como é raro e estranho encontrar, / Nesta vida, tão feita de tanta bugiganga, / (Não amo a vida, não… sabias já? Os olhos tens abertos! / E como tu és perspicaz!) / Encontrar um amigo que tem tais qualidades, / Que possui e oferece / Qualidades que nutrem a amizade» (in Retrato de Uma Senhora, trad. João Almeida Flor). São anos de afirmação literária, de reuniões e de conhecimentos, a reputação a crescer junto das luminárias da época. Ainda assim, uma edição de 500 exemplares do primeiro livro demorará 5 anos a esgotar. O pai morre-lhe em 1919, a saúde de Vivienne deteriora-se, Eliot tem um esgotamento. The Waste Land aparece em 1922, com Pound a reduzir «os perto de mil versos dos manuscritos originais a menos de metade na sua configuração final» (ver edição portuguesa, na Relógio D’Água). O poema é amplamente elogiado, a vida é que se afunda na desgraça. Eliot sente-se esgotado. Os achaques de Vivienne não lhe dão sossego. Abandona a vida de banqueiro e começa a bulir como editor na Faber and Gwyer (Faber and Faber). Aproxima-se a grande tempestade. O poeta converte-se e ingressa na Igreja Anglicana, adquire a nacionalidade britânica, faz votos de celibato e, como dificilmente poderia deixar de ser, separa-se de Vivienne. Reencontra-se então com Emily Hale. Vivienne vai parar a um hospício, acabando por falecer em Janeiro de 1947. Entretanto, em 1943, Eliot juntara, sob o título Four Quartets, quatro longos poemas anteriormente publicados separadamente. Publicou muito, ensaios, poemas, dramas, e a sua carreira mereceu a mais alta consagração com a atribuição do Prémio Nobel em 1948. Acabada a Segunda Grande Guerra, acabou-se a grande poesia. Restavam dramas e ensaios. Acusações de anti-semitismo ocasional iam dando à costa na voz dos críticos. Mas Eliot já havia vestido as calças de flanela branca. Em 1957 voltou a casar, com Valerie Fletcher. Morreu em Londres, no ano de 1965, e as suas cinzas foram largadas em East Coker : «As casas vivem e morrem: há um tempo para edificar / E um tempo para viver e para procriar / E um tempo para o vento quebrar a vidraça solta / E abanar o lambril onde se apressa o rato do campo / E abanar o arrás em farrapos lavrado com uma divisa silenciosa» (trad. Gualter Cunha).

Ao alto: Eliot e Valerie.

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