terça-feira, 11 de agosto de 2009

EMANUEL JORGE BOTELHO


Quando a revista LER era uma revista de jeito, dava-nos a conhecer poetas como Emanuel Jorge Botelho. Foi ao n.º 27 (Verão de 1994) e ainda hoje estou para perceber o quanto me terá marcado aquela entrevista. Estou certo de que me marcou, e a palavra marcante é de todas a mais importante. O autor açoriano comemora hoje 59 anos, nasceu a 11 de Agosto de 1950 em Ponta Delgada. Aos menos atentos, fique a notícia de um poeta estreado nos oitentas com pequenos livrinhos de circulação muito restrita. O primeiro, se não me enganam, intitulava-se Terra Mote ou a Destruição dos Búzios. Interrompeu a insularidade durante cinco anos passados na capital. Regressou a São Miguel, casou – é pai de Renata Correia Botelho, que publicou Avulsos, por causa em separata distribuída com o n.º0 da revista Magma e participa no n.º12 da revista Telhados de Vidro - leccionou, escreveu. Além das participações em revistas e das edições de autor, há a sublinhar, entre outros, os folhetos dados à estampa na colecção subterrâneo três da &etc. O primeiro, Full Auto Shut Off, data de 1981. António Sérgio Silva evocava-o nos seguintes modos: «Emanuel Jorge Botelho aproximava-se, então, da geração beat, do seu universo de referências, desde a música ao néon das noites citadinas, da vagabundagem até auma contracultura que englobava escritores como Ginsberg e Kerouac, aliás, citado pelo poeta. (…) Para além disso, o abjeccionismo que surge ao longo do discurso salienta a auto-exclusão social do poeta e critica as limitações do mundo burguês». Mas por esta altura os beat já levavam, pelo menos, 30 anos em cima dos costados. Mesmo tendo em conta a chegada tardia a Portugal de tudo o que foi vanguarda lá fora, o que importa salientar é uma afinidade poética que se constrói em relação com o espaço geográfico e as experiências vividas. Dos tempos lisboetas fique em acta as amizades com Paulo da Costa Domingos, Vítor Silva Tavares, Rui Baião, Luís Manuel Gaspar. Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião incluíram-no na antologia Sião (1987). Da entrevista à LER, 3 momentos:

Há pouco tempo estive em Lisboa e saí de lá completamente estúpido. Era incapaz, neste momento, de viver em Lisboa. Senti-me como se fosse perseguido constantemente por toda aquela gente…

O meio literário português é capaz de ter graça; eu sei que ele existe, as pessoas contam-me histórias mais ou menos divertidas, mas não me diz grande coisa, nem me faz falta, sinceramente. Tenho muitos amigos, conheço muita gente, mas faço uma selecção muito grande em relação àquilo que quero ouvir ou posso ouvir. E há um número infinito de pessoas que cumprimento mas a quem não dou grande importância. Não sinto falta desse meio literário de que toda a gente fala… Sei que existe e que mexe e que é maldoso, sim senhor, mas é lá com ele. Se me fizerem alguma coisa não me chateio nada, e podem ficar descansados que não me importo.

É um lugar-comum, mas parece-me que a poesia tenta negar à morte o direito ao branco, à brancura, ao mar. Poesia e morte são duas coisas opostas, unidas nisso que resta da página do poema e que cada leitor é capaz de transformar. É nessa medida, também, que a poesia está ligada ao sagrado.

A ver: estes vídeos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Só tu te lembrarias dele. Para o caso de te ler, toma lá um abraço de parabéns Emanuel, tive de ir à ilha para te conhecer.
(fallorca)