terça-feira, 21 de novembro de 2023

IMPOSTORES QUE ENGANAM IMPOSTORES

 


Aqui têm mais um belíssimo exemplo do mundo faz de conta em que as pessoas estão cada vez mais imersas, tanto que quando espreitam à superfície não acreditam no que vêem. Uma nova "República" de Platão deixaria todos a acreditar apenas nas sombras, a verdade é uma chatice, não interessa, o que interessa é o evento, a excitação, o vazio sublimado, a feira de vaidades, e por mais ludibriadas que sejam as pessoas sentir-se-ão muito aliviadas por terem participado no engodo. Estar fora é que seria penoso. Um tipo mascarou-se de DJ Marshmello e animou o público, disse o que tinha a dizer, deu entrevistas, gozou com o pagode, exactamente às horas em que o DJ Marshmello, o próprio, actuava em Las Vegas. Que interessa comer gato por lebre? É para comer. E entre original e cópia não há diferença alguma para quem já não está minimamente interessado na verdade, papa simulacros e falsificações e imposturas e trapaças dando gorjeta no final e agradendo o belíssimo serviço. Diz a Renascença: "O grupo de ativistas Yes Men fez-se passar pelo DJ Marshmello e um representante da Adidas, para apresentar uma criptomoeda e criticar as más condições de trabalho na marca de roupa e calçado desportivo. Os impostores deram entrevistas, falaram num painel e o DJ até lançou uma música." Magnífico. A Adidas esteve representada a dizer mal da Adidas. E o público aplaudiu, pois está-se nas tintas para o que aplaude. Se o vizinho do lado agita os braços e bate palmas, deve ser isso o que esperam de mim. Logo, faço como o outro para não ser excluído. O que importa é participar, o espírito crítico fica na gaveta, o circo não precisa dele para nada e, assim como assim, saímos daqui e vamos tirar selfies com iluminações de Natal. O culto da superficialidade é um poço sem fundo para o qual multidões se atiram sem sequer se darem conta que é num poço que estão a mergulhar.

TRÊS POEMAS DE OLALLA CASTRO

 


HOMENS DE BEM
 
Aqueles que disseram mata
ergueram os copos no ar
com o júbilo de todos os banquetes.
Celebraram o fim da contenda,
os árduos frutos do saque
mulheres, gado, vinho, tudo por igual abundava
Eram homens de bem:
antes da comida e depois do sangue,
rezavam.
Em festa, na oração, na batalha,
a sua língua era a mesma gritaria.
 
*
 
HISTÓRIA
 
A língua brilha como nácar
ao falar de batalhas, vitórias, conquistas,
domínios, impérios, colónias,
submissões, execuções, purgas.
Brilha, aponta o inimigo
com um sorriso rasgado
e faz soar a flauta dos nomes,
a sua doce música, já limpa de sangue.
 
                               A história é um dedo muito longo
                               que nunca se volta para si mesmo.

 
*
 
MATRIOSCA
 
Toda a morte contém
as mortes anteriores,
forma um único corpo
que cresce a  cada vez.
Matriosca de olhos abertos,
traz um pranto velho no ventre
e com o de agora se mistura,
se mistura, se mistura.
Os quartos de hospital confundem-se
como se confundem as conversas,
as mãos, os conta-gotas;
todas as vezes que já disseste adeus.

 
 
Olalla Castro, in “Todas las veces que el mundo se acabo”, II Premio Internacional de Poesía Ciudad de Estepona, Pre-Textos, Setembro de 2022. Versões de HMBF.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

PARA QUANDO?


 
Para quando os boicotes a Israel? Para quando um mandado de captura contra Benjamin Netanyahu?

UM POEMA DE OLALLA CASTRO

 


USHUAIA
 
Os turistas que chegam a Ushuaia
sobem ao Comboio do Fim do Mundo,
colocam os auriculares
e primem um botão até darem com a sua língua.
O folheto promete que quem pague bilhete
ouvirá a história dos presos
que construíram a cidade
e poderá deliciar-se com paisagens belíssimas.
Ninguém falará de trabalho forçado,
ou mencionará grilhões, ditadura, repressão.
No final do percurso
os passageiros poderão comprar um postal
onde se vêem os reclusos,
com uniformes às riscas,
a cavar no meio da neve.
Ao fundo haverá um quiosque onde se vendem
café com chocolate e bolachas.
 
 
Olalla Castro (Granada, 1979) é jornalista de formação com doutoramento em Teoria da Literatura e Literatura Comparada (tese sobre Enrique Vila-Matas, à qual foi atribuído o Premio Extraordinario de Doctorado). Começou a publicar poesia em 2013, com “La vida en los ramajes”. Além de poesia, publicou ensaio, contos e literatura infantil. Organizou várias antologias. Têm-lhe sido atribuídos diversos prémios desde a estreia em 2013. Cantora e letrista em diferentes projectos musicais, destaca-se também em Espanha como uma voz activa na luta pelos direitos das mulheres. Poema incluído no livro "Todas las veces que el mundo se acabó", Pre-Textos, Setembro de 2022. Versão de HMBF.

VEM NO THE GUARDIAN

 


Mais um terrorista capturado pela democracia israelita. Diz Julian Borger, no The Guardian:

"Um célebre poeta e escritor palestino, Mosab Abu Toha, foi preso pelas forças israelitas enquanto tentava deixar Gaza, segundo os seus amigos e familiares.
Abu Toha foi informado por autoridades dos EUA que ele e a sua família poderiam passar para o Egito, já que um dos seus filhos é cidadão americano. No domingo, estavam a caminho para o sul de Gaza, rumo ao ponto de passagem de Rafah, quando Toha foi preso com outros homens palestinos num posto de controle militar israelita.
“O exército prendeu Mosab quando ele chegou ao posto de controle, partindo de norte para sul, conforme o exército havia ordenado. A embaixada americana enviou-o e à sua família para a fronteira de Rafah”, disse o irmão do poeta, Hamza, nas redes sociais. “Não sabemos nada dele.”
Uma amiga de Abu Toha, Diana Buttu, advogada palestino-canadeana e ex-porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina, disse: “O filho, que nasceu na América, foi autorizado a ser evacuado há algumas semanas, mas o nome de Mosab não estava na lista.”
“Eventualmente, eles conseguiram o nome dele, o nome da esposa e das outras crianças da lista, e aguardavam para sair quando fosse seguro”, disse Buttu. “Tentavam sair de norte para sul, quando foram parados num posto de controle com outras pessoas. Disseram-lhes que levantassem os braços para mostrar que não tinham nada. Mosab recebeu ordens para largar o filho e então o exército prendeu-o, com muitos outros homens, 200", disse a sua esposa que não teve notícias dele desde então.
Nem o Departamento de Estado dos EUA nem as Forças de Defesa de Israel (IDF) responderam aos pedidos de comentários.
Abu Toha escrevia na revista New Yorker sobre as suas experiências sob bombardeamento no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza. Uma colecção da sua poesia publicada em inglês nos EUA foi finalista do prémio National Book Critics Circle e ganhou o prémio American Book este ano.
“É um dos nossos escritores mais prolíficos”, disse Buttu. “Ter sido publicado tão amplamente em tão tenra idade e ter recebido todos esses prémios e elogios pela sua obra, mostra o quão poderoso é como escritor.”
“É um poeta incrível”, disse Laura Albast, jornalista palestina, editora e amiga de Abu Toha. “A poesia que ele escreve é ​​muito acessível, mas também é uma representação do que nos acontece, descrevendo como andava de bicicleta para tentar chegar a casa enquanto as bombas caíam.”
Abu Toha e a sua família refugiaram-se em Jabalia, onde ouviram dizer que a sua casa em Beit Lahia tinha sido bombardeada. Num artigo da New Yorker publicado a 6 de novembro, descreveu ir de bicicleta até casa para tentar resgatar algo da sua pequena coleção de livros.
"Espero encontrar pelo menos um exemplar do meu livro de poesia, talvez perto da oliveira do meu vizinho, mas não há nada além de escombros. Nada além do cheiro de explosões”, escreveu ele.
“Agora estou sentado na minha casa temporária no campo de Jabalia, à espera de um cessar-fogo. Sinto-me como se estivesse numa gaiola. Estou a ser morto todos os dias com o meu povo. As únicas duas coisas que posso fazer são entrar em pânico e respirar. Não há esperança aqui.”
“O seu paradeiro é agora desconhecido”, informou o New Yorker na noite de segunda-feira, dizendo que se juntou a outras organizações para pedir o seu regresso em segurança."

domingo, 19 de novembro de 2023

UM ARTIGO DE EMMA GRAHAM-HARRISON

 
Vem no The Guardian, assina Emma Graham-Harrison, tradução minha. Leiam, por favor. E depois pensem no que distingue Vladimir Putin de Benjamin Netanyahu. Uma coisa é certa, o segundo é inimputável para os cúmplices da UE e dos EUA. Tudo isto é catastrófico. Depois do que está a acontecer em Gaza, tudo é legítimo. Não há direito internacional nenhum que nos proteja. Voltámos à Idade Média, quem tem armas manda.
 
"Ataques aéreos contra abrigos lotados da ONU no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, mataram mais de 80 pessoas no sábado, enquanto os planos israelitas de expandir as operações no sul de Gaza aumentavam os temores de centenas de milhares de civis que aí procuraram refúgio.
Lembrando que não há lugar seguro para os civis de Gaza, um ataque aéreo nos arredores da cidade de Khan Younis, no sul, matou pelo menos 26 pessoas nas primeiras horas da manhã de sábado.
O maior hospital do Norte de Gaza, al-Shifa, deslocou todos os pacientes e pessoal, exceto 120 dos mais vulneráveis ​​e cinco médicos para cuidar deles. À medida que as bombas continuavam a cair, a área tinha apenas recursos médicos básicos para novas vítimas.
Pelo menos 50 pessoas foram mortas num ataque de madrugada a uma escola gerida pela ONU no campo de Jabalia, e um ataque a outro edifício matou 32 membros de uma única família – 19 deles crianças – disseram funcionários do ministério da saúde administrado pelo Hamas.
Mais de 20 corpos alinhados e envoltos em lençóis manchados de sangue foram mostrados em fotografias tiradas fora do hospital indonésio. Funcionários da ONU condenaram as mortes.
“Os abrigos são um lugar de segurança. As escolas são locais de aprendizagem. Notícias trágicas sobre crianças, mulheres e homens mortos enquanto se refugiavam na escola al-Fakhouri, no norte de Gaza”, disse o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, no X. “Os civis não podem e não devem ter de suportar isto por mais tempo”.
Os militares israelitas, que, numa publicação em árabe divulgada nas redes sociais, tinham alertado os residentes de Jabalia para saírem, recusaram-se a comentar imediatamente quando questionados sobre os ataques.
Durante semanas, Israel instou os civis dentro e ao redor da Cidade de Gaza a seguirem para o sul para se protegerem, e um grande número deles obedeceu. Na semana passada, pela primeira vez, os militares israelitas instaram as pessoas a abandonarem as áreas no sul, em torno da cidade de Khan Younis, onde os residentes incluem muitos recentemente deslocados do norte.
Uma coluna de médicos, pacientes e refugiados saiu do hospital al-Shifa, o maior de Gaza, onde tropas israelitas passaram o quarto dia em busca de evidências de um centro de comando subterrâneo do Hamas.
As autoridades do Hamas alegaram que os militares de Israel ordenaram que todos deixassem o hospital. Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) disse que foi facilitada uma evacuação solicitada pela equipe médica.
Aqueles que caminhavam para sul sob o olhar tenso das tropas israelitas, através de uma paisagem infernal de escombros emaranhados que eram edifícios há dois meses, ao longo de estradas destruídas por armas e transformadas em lama por tanques, tinham pouca esperança de descanso quando chegassem ao sul.
Os abrigos estão lotados, os suprimentos de alimentos e água são tão escassos que a ONU alertou que os palestinos enfrentam a “possibilidade imediata” de fome, as doenças infecciosas estão a espalhar-se e a guerra deverá intensificar-se nos próximos dias.
Quando os aviões israelitas atingiram o norte de Gaza no início da guerra e as tropas se prepararam para avançar, as mensagens israelitas instaram os civis a deslocarem-se para sul das zonas húmidas de Wadi Gaza para sua própria segurança.
Apesar dos riscos na viagem e da grave superlotação em abrigos e casas particulares, centenas de milhares de pessoas seguiram essas ordens. Cerca de 1milhão 600 mil pessoas estão deslocadas, mais de dois terços da população, disse a ONU.
Eles encontraram apenas relativa segurança. Quarenta dias após o início da guerra, 3.676 pessoas foram mortas em áreas do sul que Israel declarou seguras. Foram responsáveis ​​por um terço de todas as mortes palestinianas no conflito, de acordo com um mapa da ONU que utiliza números das autoridades de saúde de Gaza. Agora, muitas dessas pessoas foram orientadas a mudarem-se novamente e amontoarem-se numa área ainda mais pequena ao longo da costa, em redor da cidade de Mawasi.
“Eles pediram-nos, aos cidadãos de Gaza, que fôssemos para o sul. Fomos para o sul. Agora estão a pedir-nos para sair. Para onde vamos?" Disse à Reuters Atya Abu Jab, do lado de fora da tenda onde vive a sua família que fugiu da Cidade de Gaza, uma de uma longa fileira de casas improvisadas.
Na manhã de sábado, bombas atingiram um edifício de vários andares na cidade de Hamad, um conjunto habitacional de classe média em Khan Younis, matando 26 pessoas e ferindo outras 23. Alguns quilómetros a norte, seis palestinianos foram mortos num ataque a uma casa na cidade de Deir Al-Balah.
Eyad al-Zaeem perdeu a tia, os filhos e os netos dela, que, segundo afirma, deixaram o norte de Gaza por ordem de Israel. “Todos eles foram martirizados. Não tinham nada que ver com a resistência (do Hamas)”, disse Zaeem do lado de fora do necrotério do Hospital Nasser.
O principal porta-voz militar de Israel, o almirante Daniel Hagari, disse na sexta-feira que as suas tropas atacariam “onde quer que exista o Hamas, inclusive no sul da faixa”. Disse: “Estamos determinados a avançar com a nossa operação”.
Benjamin Netanyahu admitiu numa entrevista na semana passada que a guerra estava a afectar pesadamente os civis, mas culpou o Hamas pelas mortes. “É isso que estamos a tentar fazer: o mínimo de vítimas civis. Mas, infelizmente, não tivemos sucesso”, disse ele à CBS.
Não está claro para onde os civis poderão ir para escapar dos combates caso estes se intensifiquem no sul. Gaza já era densamente povoada antes do início dos combates, desencadeados a 7 de Outubro pelos ataques do Hamas a Israel que mataram 1.200 pessoas, a maioria delas civis.
O território de 365 quilómetros quadrados abrigava 2,3 milhões. Agora o norte está praticamente vazio e a maioria das pessoas está no sul, em casas particulares ou em abrigos superlotados da ONU.
As agências humanitárias dizem que são incapazes de fornecer alimentos, água e cuidados médicos às pessoas devido à escassez de combustível, problemas de comunicação e bloqueios na entrada de suprimentos humanitários em Gaza.
Algumas pessoas em Gaza e em toda a região temem que Israel pretenda expulsar os palestinos do seu território devastado, buscando uma nova Nakba, ou catástrofe, o termo árabe para a expulsão forçada de cerca de 750 mil palestinos do que antes era a Palestina controlada pelo mandato britânico durante a criação de Israel em 1948.
Há uma semana, Avi Dichter, membro do gabinete de segurança israelita e ministro da Agricultura, disse numa entrevista televisiva: “Estamos agora a implementar a Nakba de Gaza”. Netanyahu alertou os ministros no dia seguinte para escolherem as suas palavras com cuidado.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, esteve entre os líderes regionais que disseram numa cimeira de segurança no Bahrein que Israel não deveria tentar expulsar os palestinianos do território, dizendo que a Jordânia faria “tudo o que fosse necessário para impedir” o seu deslocamento. Caso isso aconteça, além de ser um crime de guerra, seria uma ameaça directa à nossa segurança nacional.”"

SARA TAVARES (1978-2023)

 


Uma voz doce, uma mulher lindíssima. A última vez que a vi foi na Festa do Avante. Nasceu num programa de treta mas não se rendeu ao facilitismo, fazia música a sério. Testemunhei isso no Festival Músicas do Mundo, em Sines. Tão nova, que injustiça.

sábado, 18 de novembro de 2023

UM ARTIGO DE JULIAN BORGER

 

Vem no The Guardian, assina Julian Borger, a tradução é minha. Leiam, por favor:
 
"Antes da capturar o hospital Dar al-Shifa, as Forças de Defesa de Israel fizeram um grande esforço para retratar o complexo médico como um quartel-general do Hamas, de onde foram planeados os seus ataques a Israel.
As evidências produzidas até agora ficam muito aquém disso. Os vídeos das FDI mostraram apenas coleções modestas de armas pequenas, principalmente de assalto, recuperadas do extenso complexo médico.
Isto sugere uma presença armada, mas não o tipo de elaborado centro nevrálgico retratado em gráficos animados apresentados à comunicação social antes da captura de al-Shifa, mostrando uma rede de câmaras subterrâneas bem equipadas.
Até os vídeos produzidos levantaram questões sob escrutínio. Uma análise da BBC descobriu que a filmagem de um porta-voz das FDI a mostrar a aparente descoberta de uma bolsa contendo uma arma atrás de uma máquina de ressonância magnética foi gravada horas antes da chegada dos jornalistas a quem ele supostamente a estava a mostrar.
Num vídeo mostrado posteriormente, o número de armas na bolsa duplicou. A IDF alegou que o vídeo do que encontrou no hospital não foi editado, foi filmado directamente, mas a análise da BBC descobriu que havia sido editado.
As forças israelitas dizem que ainda estão a explorar cuidadosamente o local. A apresentação em vídeo de al-Shifa mostrou que as principais instalações ficam no subsolo, e é bem possível que os soldados israelitas ainda não as tenham alcançado, podendo haver mais para ver. Mas a tentativa de apresentar o que foi descoberto até agora como significativo está condenado a alimentar o cepticismo sobre o que quer que seja apresentado mais tarde.
Há dúvidas sobre até que ponto a apresentação gráfica da rede sob al-Shifa se baseou no que Israel já sabia; foi o próprio arquitecto do hospital, um israelita, quem construiu ali uma extensa área subterrânea na última vez que Israel ocupou directamente Gaza, até 2005.
Tudo isto é significativo no âmbito das Convenções de Genebra, que proíbem operações militares contra hospitais, a menos que “estes sejam utilizados para cometer, fora das suas funções humanitárias, actos prejudiciais ao inimigo”. Esta excepção, enunciada no artigo 19 da Quarta Convenção de Genebra, afirma especificamente: “… a presença de armas ligeiras e munições retiradas de tais combatentes e ainda não entregues ao serviço adequado, não será considerada como acto prejudicial ao inimigo. ”.
Israel ratificou as convenções de Genebra em 1951 e afirma observar o princípio da proporcionalidade ao abrigo do direito humanitário internacional, no qual a vantagem militar directa prevista de uma operação militar supera os danos civis que podem razoavelmente ser antecipados como consequência. A observância desses princípios é o que está em questão.
"Israel não conseguiu sequer fornecer um nível próximo de evidência necessário para justificar a pequena exceção sob a qual os hospitais podem ser alvo das leis da guerra”, disse Mai El-Sadany, advogada de direitos humanos e directora executiva do Instituto Tahrir para a Política do Médio Oriente, em Washington.
“No caso raro de a protecção ser suspensa, Israel teria de proporcionar aos civis uma oportunidade significativa de evacuação e, mesmo assim, quaisquer civis que permanecessem no hospital após uma ordem de evacuação ainda estariam protegidos pelas regras de proporcionalidade”, El- Sadany acrescentou. “Em todas as fases desta avaliação jurídica, Israel ficou terrivelmente aquém. Forneceu imagens de fotos e vídeos que estão longe de ser proporcionais às suas reivindicações iniciais.”
Em algum momento, estas questões poderão ser submetidas a julgamento formal. Israel não reconhece o Tribunal Penal Internacional, mas o tribunal reconhece a Palestina como membro e tem conduzido uma investigação sobre possíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade nos territórios palestinianos ocupados desde 2021.
Qualquer julgamento desse tipo levaria anos de distância. De forma mais imediata e directa, os detalhes do ataque a Shifa têm um impacto no clima internacional em que Israel conduz a sua guerra. Países como o Reino Unido, a Alemanha e, mais importante, os EUA, resistiram aos apelos a um cessar-fogo, alegando que as acções de Israel constituem legítima defesa. Cada dia sem provas convincentes da operação torna esse argumento mais difícil de prosseguir.
A administração Biden não só defendeu as operações de Israel, como apresentou reivindicações independentes baseadas na sua própria inteligência sobre o hospital. John Kirby, o porta-voz da segurança nacional da Casa Branca, enquadrou as alegadas instalações do Hamas como um “posto” de comando, em vez de um centro, e um possível depósito de armas.
A ausência de provas até agora começa a recordar as falhas passadas da inteligência dos EUA, de forma mais dramática as que precederam a invasão do Iraque. Isola ainda mais Washington no cenário mundial e aprofunda divisões já significativas dentro da própria administração."
 

CRIMES BACANOS

 
Não percebo, não consigo perceber e talvez devesse ficar calado. Não consigo. Gostava de saber de onde vem esta loucura com as luzes de Natal. Não é isto um atentado ambiental? As pessoas queixam-se do tempo, do clima, de não haver dinheiro para isto e para aquilo. Mas o que esperam? Quando a opção é manter tudo igual num mundo em acelerada mudança, não temos direito a queixas. O inferno que nos espera foi por nós alimentado e vai devorar-nos sem piedade.

UMA DÚVIDA

Porque raio é que os catalães e os bascos têm de ser espanhóis? Talvez o Rangel possa esclarecer. Alguém tem o número? Eu cá, se for caso disso, apoiarei a independência da Madeira, dos Açores, do Allgarve, do Ribatejo e das Berlengas. Acho mesmo que os portugueses têm todo o direito a ser independentes de Portugal. E Portugal a autonomizar-se dos portugueses.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

NINGUÉM PODE DIZER QUE NÃO VIU

 
A CNN exibiu ontem uma reportagem deveras esclarecedora da metodologia israelita junto do povo palestiniano. Como é óbvio, as caixas de ressonância e os cães de guarda do facínora Netanyahu vão fazer como os macacos: não viram, não ouviram, não falam. Israel dispara indiscriminadamente, a máquina de propaganda pode mostrar o que bem entender em matéria de túneis e munições apreendidas. Jamais conseguirá responder a uma questão tão simples como esta: se o Hamas estivesse escondido dentro de Israel os métodos seriam os mesmos? Claro que não, porque as vidas das crianças palestinianas não valem o mesmo que a vida de um israelita. Vai disto, levam tudo a eito: escolas, hospitais, museus, crianças, mulheres, idosos, gente doente, bebés prematuros, jornalistas, funcionários da ONU, nada é para poupar. É tudo para destruir sob o olhar cúmplice dos EUA e da UE. Têm as mãos manchadas de sangue. O império da hipocrisia domina o mundo.

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

FALOU E DISSE

 


Renunciei ao cargo de editora de poesia da The New York Times Magazine.
A guerra do Estado israelita apoiada pelos EUA contra o povo de Gaza não é uma guerra para ninguém. Não há segurança nela ou fora dela, nem para Israel, nem para os Estados Unidos ou a Europa, e especialmente para o vasto povo judeu caluniado por aqueles que afirmam falsamente lutar em seu nome. Estes têm um único lucro, o lucro mortal dos interesses petrolíferos e dos fabricantes de armas.
O mundo, o futuro, os nossos corações – tudo fica menor e mais difícil com esta guerra. Não é apenas uma guerra de mísseis e de invasões terrestres. É uma guerra contínua contra o povo da Palestina, pessoas que resistiram durante décadas de ocupação, deslocação forçada, privação, vigilância, cerco, prisão e tortura.

 
Anne Boyer, poeta e ensaísta norte-americana, Pulitzer Prize for General Nonfiction, 2020.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

ANTIGONICK, DE ANNE CARSON

 


ANTIGONICK
Anne Carson
 
15 a 25 de Novembro, às 21h30
19 de Novembro, às 16h
 
Pequeno Auditório do CCC
M/14
 
    Pela primeira vez levada à cena em Portugal, “Antigonick”, de Anne Carson, será a terceira e última produção teatral do Teatro da Rainha para 2023. Com tradução e dramaturgia de Isabel Lopes e encenação de Fernando Mora Ramos, este espectáculo dá continuidade a um trabalho persistente de aproximação ao teatro grego antigo, segundo perspectivas contemporâneas, que a companhia sediada em Caldas da Rainha vem promovendo desde há muito. Com estreia marcada peara o Pequeno Auditório do CCC, “Antigonick” por certo surpreenderá pela linguagem onde antigo e moderno se misturam e equilibram sem perda de sentido, pela introdução de uma personagem, o Nick de “Antigonick”, que não consta do original, pela absoluta pertinência dos temas tratados e pela extraordinária ironia da Autora canadiana.
   Prestigiada professora de grego antigo, várias vezes indicada para Prémio Nobel da Literatura, Anne Carson oferece-nos nesta tradução resumida da “Antígona” de Sófocles uma versão com claros institutos pedagógicos. Serve ela também de introdução a realidades distantes no tempo, mas próxima nas matérias abordadas: o direito à desobediência civil, a oposição entre diversas formas de Estado (da tirania à democracia, passando pela anarquia), o valor ético e moral das acções, o problema da liberdade na sua relação com o destino, a emancipação feminina, a justa medida nas acções humanas, o poder dos homens face à autoridade dos deuses, o suicídio. São estes os aspectos dominantes de um texto depurado até à raiz que interessará tanto à comunidade em geral como ao público escolar mais jovem, para o qual esta versão se dirige particularmente na figura da rebelde e insubordinada Antígona.
 
«És uma pessoa que se apaixonou pelo impossível»
 
   Tanto quanto é possível saber, “Antígona” é a mais antiga das obras conservadas de Sófocles, estreada por volta de 442 a.C. e representada em Atenas 32 vezes consecutivas. Conta-se que os atenienses apreciaram tanto esta tragédia sobre a morte de Antígona que, por altura da sua primeira representação, terão oferecido ao seu Autor o governo de Samos. A personagem que oferece título à tragédia tornou-se um símbolo de resistência ao poder, inspirando inúmeras versões ao longo dos séculos e acesos debates quanto à sua verdadeira natureza. «Que soberbo quadro de mulher!», assim se lhe referiu o poeta romântico inglês P. B. Shelley. Hegel fala da peça nas suas lições sobre estética, o que não passou despercebido a Anne Carson, conhecida pela liberdade com que enxerta nas suas versões de textos clássicos referências que lhes são posteriores. Isto mesmo sucede em “Antigonick”, com Antígona e Ismena a entrarem em cena discutindo um Hegel que mais parece Beckett.
   A intertextualidade em “Antigonick” fica explícita, desde logo, no prólogo que a tradutora escreveu para a peça, o qual tem integrado diversas leituras públicas que vão sendo realizadas com a presença da própria Anne Carson no papel de Coro. Em “A tarefa de quem traduz Antígona” são mencionadas as versões de Bertolt Brecht, a partir da tradução de Hölderlin, representada na Suíça de 1948, as reflexões estéticas de Hegel, a psicanálise de Lacan, a leitura de “Antígona” levada a cabo por George Eliot, a mais recente e extraordinária proposta, com vários fins possíveis, do filósofo Slavoj Žižek, a “Antígona” de Jean Anouilh, datada de 1942, capaz de causar tão boa impressão no alto comando Nazi como na Resistência Francesa. O poeta John Ashbery, Samuel Beckett, John Cage, Ingeborg Bachmann, são outras estrelas de uma constelação citada por Anne Carson antes de concluir: «querida Antígona, / considero ser essa a tarefa de quem traduz / impedir que alguma vez percas os teus gritos.»
 
«Aí têm os verbos de Creonte para hoje»
 
   Depois de saber que havia casado com a própria mãe, Édipo furou os olhos e exilou-se. Dos quatro filhos, só Antígona o acompanhou. Revoltado, Édipo amaldiçoou os dois irmãos de Antígona dizendo que se matariam um ao outro. Etéocles ficou a reinar Tebas, deixando Polínices furioso. Juntou-se este a Adrasto de Argos e atacou Tebas na famosa batalha dos Sete contra Tebas, acabando por morrer com o irmão no campo de batalha onde lutaram um contra o outro. Eis a trágica história da casa real de Tebas. Tornado regente da cidade, Creonte ordenou honras fúnebres a Etéocles e proibiu qualquer cerimónia a Polínices, abandonando o corpo à mercê das bestas. Inconformada com o desafortunado destino de um dos irmãos, Antígona resolveu desobedecer a Creonte. Assim começa a tragédia de Antígona, a que queria honrar o irmão Polínices oferecendo-lhe cerimónias fúnebres dignas. Esta desobediência à ordem do Estado assinará não só o seu destino, como o de outros que a rodeiam.
   Para o encenador Fernando Mora Ramos, que interpretará também o papel de Creonte, Carson «converte os conflitos na sua expressão elementar, não lhes deixa, intencionalmente, mais respiração que a necessária para serem lidos como num esquema clarificador que, no fundo, remeta para um entendimento que capte o principal e que por aí permita aceder a outras subtilezas. Esta peça é também um modo de entrar na de Sófocles e nada perde por ter essa qualidade, uma singularidade com potencial pedagógico. Será a peça de Carson um resumo da peça de Sófocles? Não, seria disparate dizê-lo. E por que razão? Porque, tratando-se da revisitação de um clássico, não se reduz à síntese mas, pelo contrário, incute-lhe uma actualidade, uma vivacidade, particularmente na linguagem entremeada de tradução directa do grego e coloquialidades próximas.»
   Sobre a actualidade e pertinência deste texto, acrescenta Fernando Mora Ramos: «O que mais nos salta à vista hoje é também a contraposição masculino/feminino, a coincidir com autarcia versus desobediência, o conflito que, sendo geracional, é mais que isso, sendo que o gesto de Antígona acaba por derrubar, por assim dizer, o regime de Creonte que, face às mortes desencadeadas pelo suicídio de Antígona, do filho Hémon e da Mulher Eurídice, se desfaz em “dor”. Diz Creonte, no fim da peça, que está tão morto em vida como aqueles que já não pertencem a este mundo.»
 
«Não há grandeza que entre na vida dos mortais sem trazer a desgraça»
 
   Nascida em Toronto a 21 de Junho de 1950, Anne Carson estudou artes e grego antigo. É uma reconhecida poeta, professora de Estudos Clássicos, ensaísta e tradutora. Os seus livros questionam as fronteiras entre géneros desde a estreia com “Eros the Bittersweet: an Essay” (1986), misturando os diferentes interesses da Autora, que vão da literatura comparada à antropologia, história e artes, juntando ideias e temas de proveniências diversas. Os seus livros testam as formas fixadas da poesia, do ensaio, do drama, problematizando as relações entre realidade e ficção, original e tradução, surpreendendo pela capacidade de síntese e pelo agudo sentido de humor.
   “Antigonick”, versão publicada originalmente em 2012 sob a forma de “drama gráfico”, com a própria caligrafia de Carson e ilustrações de Bianca Stone, teve uma edição posterior já depurada dos desenhos e com caracteres tipográficos. Nesta outra edição, no entanto, o leitor não deixou de ser surpreendido pelos diálogos justificados à esquerda, ao centro e à direita, aspectos formais que salientam a sua escrita extraordinariamente rítmica. A este trabalho em concreto referiu-se Carson como uma «tentativa de transmitir um movimento, um choque ou um obscurecimento que existe no texto original, o que nem sempre significa reproduzir as palavras e as frases originais pela mesma ordem. Uma peça é um conjunto de acções e de gestos, e é isso que precisa de ser traduzido do grego antigo para uma língua actual.»
   Sobre Nick, a estranha personagem agora introduzida pela tradutora no corpo da acção, diz-nos Anne Carson: «Nick mede coisas. A maioria das tragédias gregas trata de uma pessoa que é grande demais para o espaço de vida que lhe foi concedido. O excesso leva à catástrofe. A necessidade de evitar ruídos excessivos nessas peças é uma ansiedade constante. Um personagem mudo e que se move o tempo todo é um espaço livre de invenção para quem dirige/produz a peça. Pode ser engraçado, pode ser lírico, pode ser uma outra dramatização das tensões, dependendo de como for encenado».
       Com interpretações de Beatriz Antunes, Carlos Borges, Diogo Marques, Fábio Costa, Henrique Manuel Bento Fialho, Isabel Lopes, João Costa, José Carlos Faria, Mafalda Taveira e Nuno Machado, este espectáculo contará ainda com cenografia de José Serrão e iluminação de Jorge Ribeiro. No âmbito desta nova produção do Teatro da Rainha, receberemos dia 25 de Novembro, às 16h, no Pequeno Auditório do CCC, o Professor Catedrático José Pedro Serra para uma conversa acerca de Antígona, personagem clássica que continua a inspirar acesos debates sobre o direito à desobediência civil, a emancipação feminina, a problemática do suicídio ou a oposição entre diversas formas de Estado tais como a tirania, a democracia e a anarquia. Encontro aberto ao público em geral com um extraordinário comunicador, autor da série “Mythos” exibida pela RTP.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

DEMOCRACIAS LIBERAIS

 


Anwar El Ghazi, atacante holandês, foi despedido por ter demonstrado nas redes sociais o seu apoio à causa palestiniana. Face ao despedimento, o jogador já reagiu dizendo: «A perda do meu ganha-pão não é nada quando comparado com Gaza.»

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

NINGUÉM OS CHORA

 


Heba Zagout, "Gaza Peace", 2021.
 
Por estes não há carpideiras que se escutem, a comoção universal das redes está no congelador a poupar-se para o amor e a paz servidos à mesa pomposa do Natal.
 
Pois fiquem todos sabendo que Heba Zagout foi assassinada pelas bombas de Israel. Não foi sozinha para o outro mundo, levou consigo, nos braços mortos, dois filhos: Adam e Mahmoud.
 
Mohammed Sami Qariqa, outro artista da Palestina sem direito a lamentações, também já não pinta neste mundo. As bombas israelitas desfizeram-lhe o corpo em pedaços.
 
Hiba Abu Nada, poeta e romancista, também seguiu pelo mesmo caminho. O Ministro da Cultura da Palestina diz que morreu com o filho sob os escombros provocados pelos bombardeamentos da democracia governada por Netanyahu, o facínora que muita gente dita de bem continua a apoiar incondicionalmente. Da autora premiada, agora morta, eis os últimos versos. Foram publicados no Twitter:
 
Gaza’s night is dark apart from the glow of rockets,
quiet apart from the sound of the bombs,
terrifying apart from the comfort of prayer,
black apart from the light of the martyrs.
Goodnight, Gaza.

domingo, 12 de novembro de 2023

NÃO ME FODAS

 

A noite passada sonhei que tinha escrito uma peça nova, era sobre o problema da identidade de género. Hesitei entre escrever sobre Auschwitz ou identidade de género, optei pelo segundo tema por me parecer ainda pouco explorado. O título era "Não me fodas". Causou grande impacto, fui mesmo convidado a ir com a peça a Avinhão. ""Não me fodas" em Avinhão", era o título da notícia no Público. Pior foi quando fui convidado a dar uma entrevista na SIC, em pleno Jornal da Noite. A coisa deu-se, mais ou menos, nos termos seguintes:
Clara de Sousa: "Como se chama a sua peça?"
Eu: "Não me fodas."
CdS: "Desculpe?"
Eu: "Não me fodas."
CdS: "Bem, esta entrevista termina aqui. Foi um equívoco. Olhe que eu tenho muitos anos de carreira, não estou para ser assim enxovalhada em directo..."
Eu: "Oh senhora dona Clara, mas "Não me fodas" é..."
E nisto sou arrastado pelo José Gomes Ferreira aos berros, "Prepara-te, prepara-te...", gritava ele em tom de ameaças. Acordei com o Rodrigo Guedes Carvalho a fazer-me um mata-leão, relatado pelo Milhazes e o Rogeiro em directo. Um pormenor, no rodapé estava escrito "Nuno Rogério comenta mata-leão de Caralho a autor de "Não me fodas", peça portuguesa em Avinhão". Bem feita, enganaram-se no nome dos dois.

COMENTADORES

 
"Major-general Agostinho Costa e Helena Ferro Gouveia? Ó filhos, só se estraga uma casa." Diz Quitéria, com a boca cheia de castanhas.

sábado, 11 de novembro de 2023

ATÉ QUANDO?

 
Quando é que os engomadinhos da UE e os engravatados dos EUA vão visitar Gaza? Precisamos das suas manifestações de choque, ansiamos pelas suas lamentações indignadas contra as "decisões cínicas" de Benjamin Netanyahu. Estes paladinos da democracia, da paz e do amor e da liberdade e do direito à autodeterminação dos povos não podem continuar de pijama e de pantufas a assistir a mais "ataques "terríveis" contra escolas que abrigam deslocados em Gaza". Ou podem?

QUE MAIS É PRECISO?

 
"Mandado de captura do TPI para Putin por crime de “transferência” de crianças ucranianas"
17 de Março de 2023

De que é que o TPI está à espera para emitir um mandado de captura de Benjamin Netanyahu?

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

NEGÓCIOS LIMPOS

 


JMJ. Câmara de Lisboa gastou 19,9 milhões no Parque Tejo

Relatório final da autarquia sobre a Jornada Mundial da Juventude mostra que o valor total gasto foi de 34 milhões de euros, um milhão abaixo do previsto inicialmente. Poupança que a Câmara de Lisboa atribui, em grande parte, à diminuição dos custos do altar-palco.

Sempre a poupar, estes portugueses de bem. E que grande negócio! Isto sim, é de se lhe tirar o chapéu.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

MANUEL GUSMÃO (1945-2023)

 


Sobre Migrações do Fogo: aqui. Poemas: aqui, aqui, aqui. Tradução de Francis Ponge: aqui. Poema seguido de nota crítica de Joaquim Manuel Magalhães: aqui.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

PSICOPATAS

 


Este é Yitzhak Rabin, político israelita, Nobel da Paz em 1994. Foi assassinado a 4 de Novembro de 1995. Sabem por quem? Terá sido por um palestiniano radical? Um fundamentalista islâmico? Não. Yitzhak Rabin foi assassinado por Yigal Amir, um judeu de extrema-direita, desses que governam agora Israel, que se opunha aos acordos de Oslo. Benjamin Netanyahu devia estar na prisão a fazer companhia a Yigal Amir. É esta gente que os EUA apoiam incondicionalmente e Marcelo Rebelo de Sousa desresponsabiliza, para levar com um elogio de André Ventura. Cambada de hipócritas, cambada de assassinos, cambada de psicopatas.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

QUE MAIS É PRECISO?

 


Campos de refugiados, hospitais, ambulâncias, escolas da ONU, 1 criança assassinadas a cada 10 minutos desde 7 de Outubro, milhares de mortos, três dezenas de jornalistas apanhados pelo fogo israelita, um cardápio de crimes de guerra sem fim. Estão à espera de quê para convidar Nabil Abuznaid, chefe da missão diplomática da Palestina, a discursar no Parlamento português?