Este ─ o soneto da Saudade inquieta
Em que, lembrando as horas de paixão,
Pergunta à Musa o sonho do Poeta
Se ela é fiel à sua adoração…
Este ─ o ritmo de amor em que, discreta
E oculta e desejosa de ilusão,
Minh’alma balbucia a dor secreta
De nunca dominar teu coração…
Este ─ o soneto do viver profundo,
Em que a frase mais pobre é todo um mundo
De incerteza, de mágoa e puro ardor…
Vai para ti meu coração veemente…
─ Mas tu, Amor, se existes realmente,
Nem mesmo sabes que és o meu Amor!
Para uns, terá sido um instrumento de tortura de criancinhas inocentes. Para outros, um notável pedagogo. Mas João de Barros também foi poeta. Cabral do Nascimento afasta-o da tendência melancólica portuguesa, falando de uma poesia «sadia e optimista, confiante e colorida». Não coube na antologia. Veio o poeta ao mundo a 4 de Fevereiro de 1881, na bela cidade de Figueira da Foz. Licenciou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1904, mas dedicou-se às letras e à pedagogia. Foi professor do ensino secundário na Figueira, no Porto e em Lisboa, tendo depois exercido os cargos de director do Ensino Primário e de secretário-geral do Ministério da Instrução Pública. Grande parte da sua obra foi ficando dispersa por publicações periódicas. Ainda antes de ter concluído o curso, publicara os volumes Algas (1899), O Pomar dos Sonhos (1900) e Entre a Multidão (1902), tendo mais tarde reunido os seus poemas nas antologias Vida Vitoriosa (1943) e Humilde Plenitude (1951). Entusiasta da lusofonia, fundou com João do Rio a revista de intercâmbio cultural luso-brasileiro Atlântida (1915-1920). Em 1920 foi eleito sócio da Academia Brasileira de Letras. Viajou ao Brasil, dois anos depois, na companhia do Presidente da República. Fez carreira política como Ministro dos Negócios Estrangeiros da Primeira República. Também pertenceu à Academia das Ciência de Lisboa. Em 1945, foi-lhe atribuída a grã-cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul. Dedicou os últimos anos a elaborar adaptações juvenis de clássicos da literatura tais como Os Lusíadas ou a Odisseia, ainda hoje recorrentes no ensino da língua portuguesa. Casado com Raquel Teixeira de Queirós, de quem teve três filhos, faleceu a 25 de Outubro de 1960.
3 comentários:
Caro Henrique,
é bom ver aqui o velho João de Barros, que bem merece uma antologia que o torne mais conhecido nos dias de hoje.
O aspecto a que se refere o Cabral do Nascimento é exacto. A poesia dele é vitalista e solar, ao arrepio, quer do nacionalismo quer de um certo "umbilicalismo" que foram hegemónicos no seu tempo. A grã-cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul foi-lhe dfada pelo Brasil, obviamnete, e não pelo regime de cá, de que ele foi sempre opositor. Já agora, três curiosidades biográficas: João de Barros foi genro de Teixeira de Queirós, era pai de Henrique de Barros, presidente da Assembleia Constituinte depois do 25 de Abril, e sogro do Marcelo Caetano.
Muito obrigado pelos esclarecimentos. De facto, a referência à grã-cruz induz em erro. Saúde,
"era pai de Henrique de Barros, presidente da Assembleia Constituinte depois do 25 de Abril, e sogro do Marcelo Caetano"
podemos deduzir que Henrique de Barros e Marcelo Caetano eram casados um com o outro.
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