Lawrence Ferlinghetti nasceu em Yonkers, New York, a 24 de Março de 1919. Filho de Clemence Albertine Mendes-Monsanto, francesa descendente da comunidade sefardita portuguesa, e de Carlo Ferlinghetti, italiano emigrado nos states, nunca chegou a conhecer o pai. Transtornada com a perda do marido, Clemence foi internada pouco tempo depois de ter dado à luz. A criança ficou entregue a uma tia francesa, mulher de Ludovico Monsanto, tio de Clemence e professor de espanhol na U.S. Naval Academy. Ferlinghetti acabou por viver a infância em Estrasburgo, aprendendo a falar francês ainda antes do inglês. O regresso aos EUA deu-se quando tinha aproximadamente cinco anos de idade. Passou por um orfanato até ter sido como que adoptado pelos patrões da tia francesa. Fez os primeiros estudos em várias escolas e ingressou na University of North Carolina, onde se formou em jornalismo. Os primeiros textos começaram a ser publicados no início da década de 1940, ainda assinados como Lawrence Ferling. Na verdade, até 1942 o poeta desconheceu o seu verdadeiro apelido. Só nesse ano, por culpa de um certificado que teve de entregar na US Navy, é que ficou a conhecer o seu verdadeiro nome. A Segunda Grande Guerra obrigou-o a embarcar, revelou-lhe o lado abjecto dos conflitos armados, transformou-o num pacifista inveterado depois de uma visita às ruínas de Nagasaki. Finda a Guerra, trabalhou na Time, voltou a estudar na Columbia University, formou-se em Literatura Inglesa, partiu para Paris, onde se doutorou no ano de 1950. Regressou às terras americanas no ano seguinte, casando-se com Selden Kirby-Smith e fixando-se em São Francisco. Os anos de São Francisco serão determinantes para o seu percurso literário: dá aulas de francês, pinta, escreve crítica de arte, funda, com Peter D. Martin, a City Lights Bookstore, depois de ter fundado a revista City Lights, traduz Jacques Prévert e dá início à publicação das Pocket Poets Series com um livro da sua autoria: Pictures of the Gone World. Seguiram-se, entre outros, livros de Kenneth Patchen, Allen Ginsberg, Robert Duncan, William Carlos Williams, Gregory Corso… A revolução estava em marcha. Howl and Other Poems, o quarto volume da colecção, levou Ferlinghetti à barra dos tribunais. Como é de todos sabido, nada há de melhor para um livro do que tornar-se caso de polícia. A primeira edição de 1500 cópias esgotou rapidamente. No termo do julgamento, o “livro obsceno” já ia com mais de 10.000 cópias vendidas. Eram os gloriosos anos da Beat Generation, das leituras públicas, dos escândalos, das performances ao som de jazz. No entanto, Lawrence Ferlinghetti recusou sempre a associação ao movimento Beat. Dizia-se boémio, veterano de guerra, pai de filhos e proprietário de uma livraria, tudo marcas dificilmente conciliáveis com a deriva de uma geração que fazia da rua e da estrada a sua bandeira. A verdade é que City Lights transformou-se numa espécie de porto onde atracavam os marinheiros do movimento: de Ginsberg a Kerouac, de Diane diPrima a Gary Snyder, de Gregory Corso a Burroughs, entre tantos outros. Talvez Lawrence Ferlinghetti estivesse mais próximo de um certo anarquismo libertário, com uma postura crítica alicerçada em experiências pessoais que advinham do percurso militar e de todo um historial de vida pouco simpático. O seu interesse seria mais o de libertar a poesia das Academias do que fundamentar um qualquer movimento sociopolítico com metodologias de intervenção artística. A Coney Island of the Mind (1958) é o mais popular dos seus livros e um dos livros de poesia mais vendidos de sempre nos EUA. Poeta, editor, crítico de arte, pintor, Lawrence Ferlinghetti continuou a publicar os seus e de outros livros, viajou imenso, agitou as águas, soube intervir quando o mundo esperava dos poetas algo mais do que livros cheios de poemas confortavelmente escritos na secretária lá de casa. Uma vida admirável que tem sido justamente premiada.
2 comentários:
já agora lembra que lawrwncw ferlinghetti esteve em portugal nos anos 80...em digressão
Vou lembrar.
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