terça-feira, 2 de março de 2010

MÁQUINA DE EXPERIÊNCIAS

Suponhamos que havia uma máquina de experiências que proporcionaria ao leitor a experiência que desejasse. Neuropsicólogos superfixes podiam estimular o seu cérebro de maneira a pensar e sentir que escrevia um grande romance, fazia uma amigo, ou lia um livro interessante. Durante todo o tempo, estaria a flutuar numa cuba, com eléctrodos ligados ao cérebro. Dever-se-ia ligar esta máquina durante toda a vida, pré-programando as suas experiências de vida? Se está preocupado com a perda de experiências desejáveis, podemos supor que as empresas investigaram exaustivamente a vida de muitos outros. O leitor pode escolher a partir da sua imensa biblioteca ou bufete dessas experiências, seleccionando as suas experiências de vida para, digamos, os dois anos seguintes. Após dois anos, poderia passar dez minutos ou dez horas fora da cuba, para seleccionar as experiências dos seus dois anos seguintes. Evidentemente, enquanto está na cuba não saberá que ali está; pensará que tudo aquilo acontece efectivamente. Os outros podem também ligar-se e ter as experiências que quiserem, pelo que não há necessidade de estar desligado para os servir. (Ignore problemas como o de saber quem cuidará das máquinas se todos se ligarem.) Ligar-se-ia? O que mais pode ter importância para nós, além do modo como são as nossas vidas a partir de dentro?

Robert Nozick, in Anarquia, Estado e Utopia, trad. Vitor Guerreiro, Edições 70, Novembro de 2009, pp. 74-75.

Há poetas que escrevem como se estivessem ligados a uma destas máquinas. Outros parecem eles próprios máquinas de experiências. Os meus preferidos são apenas e tão só aqueles que escrevem em busca de uma resposta para a questão final. Possivelmente desconfiando que tal resposta não exista, não deixam de tentar. Porquê? Talvez por terem entendido que melhor do que a previsibilidade dos dias é sermos brindados pelos acidentes. E, por isso, experienciam não de um modo maquinal, mas de um modo que lhes permita continuar a pensar que vale a pena, mesmo que não valha, continuar a experienciar.

2 comentários:

jaa disse...

Está bem, hmbf, mas responda lá à pergunta: Ligar-se-ia? Eu não gosto da ideia acima de tudo por temer não conseguir resistir.

hmbf disse...

Não.