Camarada Van Zeller, este fim-de-semana descobri algumas coisas muito importantes. Descobri que ao pé do meu recibo de vencimento, o recibo de vencimento dos administradores executivos da GALP deve ser uma enorme confusão. No meu vem tudo muito bem discriminado e em números redondos, ou seja, perceptíveis. Subsídio de almoço, horas extra pelos feriados de serviço, suplemento nocturno (28 horas que me renderam 19,18€, o que é muito bom pois deixa-me margem para voltar a comprar o Expresso, ler as críticas do António Guerreiro e limpar o xixi do Basquiat com elas), o magnífico vencimento base, que é aquele que o camarada conhece e julga excessivo, e um prémio de vendas que acrescenta 10% do vencimento base à soma final. É verdade que sou um bocado parvo, pois esse prémio de vendas fica quase sempre na casa de quem me o paga. O que fazer? Não resisto à tentação dos livros. Qualquer dia passam a pagar-me em géneros e depois faço como a ratazana Firmin, como bíblias inteiras de Joaquim Manuel Magalhães e Cª. Pobre Firmin, tivesse ele comido essas coisas e ainda morria de indigestão. Mas sinto-me feliz. Ao pé dos 1,5 milhões que o CEO Ferreira de Oliveira recebeu, este meu humilde vencimento garante-me um lugar no céu. Dos pobres é o reino do Senhor. Ao passo que o Ferreira tem o CEO na Terra, mas há-de ir parar ao inferno. Eis um raciocínio que me deixa confortado, nomeadamente por ser um indivíduo cada vez mais crente no bom coração da humanidade. É verdade que quanto mais olho para dentro de mim, mais detesto a raça humana. Porém, sou muito crente no bom coração dos outros. Mormente no coração de santinhas que falam com seres do outro mundo. Isto dá-se depois de ter visto uma espírita a falar com espíritos num programa da Júlia Pinheiro. Fiquei a saber que os espíritos são maltinha bem aperaltada, boas companhias. Gostava de saber por que espíritos ando eu rodeado. A minha mãezinha costuma benzer-me e diz-me que sou vítima de mau-olhado. Não admira, com um vencimento invejável como o meu é natural que ande para aí muito mortal quebranto atirado na minha direcção. Mas concluo, caro Van Zeller, que isto de falar com os espíritos há-de ter as suas vantagens. Sempre vamos falando com alguém vivo, vivo de realidade. Mais vivo do que os mortos ambulantes que pululam nos centros comerciais e nos weblogs e na poesia portuguesa & etc.. Como aquele que se me chegou ao balcão no passado domingo, pediu dois livros para oferta, perguntou onde podia comprar jornais e se sabíamos o cartaz dos cinemas. Ainda por cima era brincalhão, disse chamar-se Francisco Van Zeller.
2 comentários:
Basquiat merece melhor papel...
Não é o Basquiat, é o mijo do Basquiat.
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