sábado, 22 de maio de 2010

A NOITE DO ÍNDIO


A noite do índio promete ser muito escura. Nenhuma estrela brilhará acima do horizonte. Ventos carregados de tristeza gemem ao longe. Um destino ameaçador parece levantar-se no caminho do Pele-Vermelha, e onde quer que este esteja ouvirá sempre os passos do seu impiedoso destruidor.

Mais algumas luas, mais alguns invernos, e não restará nenhum descendente das poderosas tribos que outrora se deslocaram por estas vastas terras e que agora deambulam em bandos dispersos através de extensas e desoladas paisagens. Não ficará ninguém para chorar sobre as sepulturas de um povo que em tempos foi tão poderoso e promissor quanto o vosso.

Mas por que haveria eu de estar aqui a lamentar-me sobre o destino do meu povo? As tribos são compostas de indivíduos, e elas não são melhores do que eles; os homens vão e vêm como as ondas do mar. Uma lágrima, um lamento, um canto fúnebre, e eles partem para sempre dos nossos pesarosos olhos. Até o Homem-Branco, com quem o seu Deus caminhou e falou, como entre amigos, não está livre de um tal destino. Afinal, talvez sejamos irmãos. Veremos isso.



Chefe Seattle, in A Noite do Índio – discurso proferido em 1854, trad. Joaquim Palma, Casa do Sul, 2.ª edição, Abril de 2007, pp. 25-26.

3 comentários:

Zélia Guardiano disse...

Maravilha!
Texto extremamente necessário.
Feliz escolha...
Um abraço

hmbf disse...

Obrigado.

© Maria Manuel disse...

um discurso lúcido e inteligente.
o genocídio dos índios na America, que os americanos celebram em duas datas nacionais (celebram a vitória dos colonos, ou a independência, creio...) - mas Chefe Seattle sabe que é da natureza do homem branco... o genocídio dos judeus, dos ucranianos, dos arménios, na bósnia, no cambodja, na guatemala... e depois de todos os homens... no rwuanda, no uganda,...

(desculpe a extensão do post)