sexta-feira, 16 de julho de 2010

CORETO, 2010


Estamos vivos. E ao longe parecemos direitos. Uma ligeira curvatura, talvez. Dos ossos, talvez. Ou das horas. É provável que seja aquela curva onde todos os desastres aconteciam. Na minha terra, havia uma curva dessas. Era a curva da Amieira.



A nossa melhor actuação foi de luzes apagadas, já toda a gente havia recolhido os microfones. Mas tu leste: estamos vivos. E eu toquei-te nos ombros: fazemos coisas, fazem-se coisas, é preciso fazer as coisas acontecerem. Ninguém morre na curva da Amieira se não passar por lá.



Ora olha bem para estas olheiras. Ora olha bem para os lábios arroxeados do vinho barato servido ao pacote. Estamos vivos. Ela passa por nós a alta velocidade, um tipo pressente-a crescer enquanto os ossos dos filhos se esticam à altura dos nossos ombros. E um destes dias, acredita, também ela há-de despistar-se na curva da Amieira.


Todos os acidentes na puta da curva. Morreram por lá centenas de vidas. Gatos, cães, gente, coelhos, fantasmas. Todos atropelados, despistados na puta da curva. Mas nós estamos vivos, a música ainda agora começou no silêncio das bandas. As curvas do coreto não deixam mentir. Actuámos, fizemos qualquer coisa acontecer, qualquer coisa pelo que ninguém dará. Excepto nós. Afinal, estamos vivos.

4 comentários:

blimunda disse...

alive and kicking, henrique, alive and kicking, que é o que se quer

hmbf disse...

yah

fallorca disse...

E de que maneira!

hmbf disse...

;-)