domingo, 27 de fevereiro de 2011

LAGOA DE ÓBIDOS

Estou demasiado colado às imagens de Herta Müller para que as palavras me façam justiça. Finto as imagens com outras imagens, concretas, irreproduzíveis mesmo em opção panorâmica. Por dentro, as imagens boiam sobre o sangue como os patos bravos sobre as águas escuras da lagoa. Há pescadores nas margens que dão banho aos iscos. Trazem os cães, enrolam cigarros, bebem umas cervejas com o tempo a pôr-se em lugar expectável. As filhas aprendem a saltar à corda, eu faço a digestão ao polvo deitado em batata-doce com salada de beringela.

Arrumei as canas que não tenho no armário das intenções adiadas, mesmo ao lado de uma cabeça que me dói e de um coração ferido pelo orgulho. Uma antiga namorada, coisa de 20 anos, (re)descobre-me e sugere conversa. Na última vez que me lembro de a ter visto olhou para o lado. Foi há tanto que já nem me lembrava. Agora tenho ali o caminho à minha espera, vai dar à foz. Mesmo voltando para trás, com o livro da Herta Müller debaixo do braço, é para a frente que olho. Um dia, podes ter a certeza, hei-de aprender a ser feliz.

2 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Para aí uns 75% dos meus genes são das Caldas e arredores. Espero que ao menos sorrias.

hmbf disse...

Bem, não posso dizer que já esteja morto. E o polvo do Poço dos Sabores, embora estivesse de chorar por mais, justifica um sorriso e meio.