Camarada Van Zeller, está em marcha uma conspiração contra o nosso querido país. É preciso resgatá-lo. As pessoas andam aflitas, temem a miséria, a pobreza, o desespero e o Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia. Veja bem que uma amiga desempregada já nem tem dinheiro para pagar o Imposto Automóvel. Se ela está desempregada, como pode pagar o Imposto Automóvel? Não basta ter que pagar balúrdios de gasóleo? De resto, os transportes públicos estão pela hora da morte. E ainda por cima cheiram mal, são desconfortáveis. Dois amigos professores queixam-se dos cortes nos salários. Passo os dias a ouvir pessoas queixarem-se dos cortes salariais. Coitadas das pessoas. Ganhavam 2500 e agora só ganham 2200. Já viram a miséria que é? Uma aflição. Nota-se a tristeza com que vão às compras, o desespero com que olham para o salmão fumado, para a sobremesa de baunilha. 47 alvas e impolutas personalidades resolveram assinar um documento com propostas contra este estado deprimente de coisas. Receiam que os filhos tenham que passar a deslocar-se para o Liceu (Pedro Nunes) ao volante de um humilde Golf GTI. Propõem um clima de tranquilidade, que continuemos a ser governados exactamente pelos mesmos snobes que nos trouxeram até onde estamos; propõem um compromisso entre as instituições, ou seja, um compromisso com o sistema que há anos vem alimentando saltimbancos de fato e gravata. A brigada do reumático uniu-se para nos salvar, para resgatar Portugal das artroses. Uma elite tão miserável quanto a miséria em que estamos. Olhe, convidaram-me para palestrar sobre o poder curativo da espiritualidade. Convite inusitado que, perante a surrealidade do momento, me sinto tentado a aceitar.
4 comentários:
Na crise de 1980, tinha dez anos, não me lembro de como foi. A minha irmã mais velha contou-me alguns promenores,que se ia às compras e faltavam coisas, por exemplo, havia racionamento de leite no comércio em Évora, só vendiam dois litros de leite por pessoa, o que era complicado, porque na minha casa eramos sete miúdos, a minha mãe comprava dois e a Norma que estava connosco à tarde conseguia trazer mais dois. Pergunto-me o que irá acontecer com esta. Sabemos que o desemprego disparou, que existem cortes nos salários, que o emprego é quase todo precário e o pessoal está a emigrar, mas vai começar a haver atrazos nos salários da função pública? Cortes de electricidade ou gás?
Vai ser cada vez melhor. Prepara a dispensa.
É caso para fazer uma horta no quintal para poupar ;)
sinais da crise: onde se lê dispensa leia-se despensa
Enviar um comentário