Apesar do ingrediente romântico, que parece ter estado na origem do Facebook, o que mais sobressai no filme de David Fincher é o maquiavelismo patológico que rege as relações humanas entre as diversas personagens do filme. À excepção de Erica Albright, musa inspiradora do génio maligno e sua primeira vítima, em quem ainda detectamos um certo humanismo orgânico, todos os intervenientes parecem saídos de um manicómio, provavelmente Harvard, onde o fervilhar incontinente das ideias tem na sua base a intenção muito norte-americana da popularidade. Esta necessidade doentia de popularidade, que, no fundo, é o motor da própria rede social criada por Mark Zuckerberg, impele os intervenientes para a mais vetusta armadilha da avidez: a solidão. No fundo, encontramos muitos pontos de contacto entre a personagem central do filme de Fincher e o Citizen Kane de Orson Welles. Os impérios gerados por ambos alimentam-se das mesmíssimas paixões, agora pronunciáveis em formato digital e manipuláveis a uma escala internacional. A solidão de Mark Zuckerberg, enxotado para o lado por amigos traídos e, acima de tudo, pela musa publicamente (ou interneticamente) enxovalhada, é o paradigma mais resistente da megalomania dos génios. No entanto, há um pormenor no filme de Fincher que actualiza a nostalgia latente em Rosebud. Esse pormenor é a velocidade das falas, a ânsia que a palavra sente quando pretende acompanhar o pensamento, uma vertigem que não prescinde da nota final: Mark Zuckerberg é o mais novo bilionário do mundo. Esta meteórica ascensão é típica de um mundo em que todos nós desaprendemos de viver devagar, para aprendermos a sobreviver à velocidade da luz (aqui, a palavra luz pode ser entendida sob vários sentidos). Encriptados no frenesi de uma estrutura social cuja dinâmica está organizada em função da rentabilidade do tempo e da voragem do sucesso, tendemos a esquecer-nos do milagre que a vida contém: «bebe devagar, concentra-te no prazer de beberes, sê o teu corpo que bebe. A vida está tão cheia de milagre. Mas convulsos rápidos distraídos, tanta coisa que se perde» (Vergílio Ferreira).domingo, 10 de abril de 2011
THE SOCIAL NETWORK
Apesar do ingrediente romântico, que parece ter estado na origem do Facebook, o que mais sobressai no filme de David Fincher é o maquiavelismo patológico que rege as relações humanas entre as diversas personagens do filme. À excepção de Erica Albright, musa inspiradora do génio maligno e sua primeira vítima, em quem ainda detectamos um certo humanismo orgânico, todos os intervenientes parecem saídos de um manicómio, provavelmente Harvard, onde o fervilhar incontinente das ideias tem na sua base a intenção muito norte-americana da popularidade. Esta necessidade doentia de popularidade, que, no fundo, é o motor da própria rede social criada por Mark Zuckerberg, impele os intervenientes para a mais vetusta armadilha da avidez: a solidão. No fundo, encontramos muitos pontos de contacto entre a personagem central do filme de Fincher e o Citizen Kane de Orson Welles. Os impérios gerados por ambos alimentam-se das mesmíssimas paixões, agora pronunciáveis em formato digital e manipuláveis a uma escala internacional. A solidão de Mark Zuckerberg, enxotado para o lado por amigos traídos e, acima de tudo, pela musa publicamente (ou interneticamente) enxovalhada, é o paradigma mais resistente da megalomania dos génios. No entanto, há um pormenor no filme de Fincher que actualiza a nostalgia latente em Rosebud. Esse pormenor é a velocidade das falas, a ânsia que a palavra sente quando pretende acompanhar o pensamento, uma vertigem que não prescinde da nota final: Mark Zuckerberg é o mais novo bilionário do mundo. Esta meteórica ascensão é típica de um mundo em que todos nós desaprendemos de viver devagar, para aprendermos a sobreviver à velocidade da luz (aqui, a palavra luz pode ser entendida sob vários sentidos). Encriptados no frenesi de uma estrutura social cuja dinâmica está organizada em função da rentabilidade do tempo e da voragem do sucesso, tendemos a esquecer-nos do milagre que a vida contém: «bebe devagar, concentra-te no prazer de beberes, sê o teu corpo que bebe. A vida está tão cheia de milagre. Mas convulsos rápidos distraídos, tanta coisa que se perde» (Vergílio Ferreira).
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