sábado, 1 de outubro de 2011

RECORDAÇÕES DA PEQUENA CASA DO CANTO



...Era azul como a sua mão à hora da morte. Era a sua mão crispada, era o último orgasmo. Era a sua picha parada como um pássaro por cair, parada para a receber, a morte, a amante (ou não)
...Já não sei falar. Com quem?
...Nunca encontrei uma alma gémea. Ninguém foi um sonho. Deixaram-me com os sonhos abertos, com a minha ferida central aberta, com a minha ruína. Lamento; tenho esse direito. Assim mesmo, desprezo quem não se interessa por mim. O meu único desejo foi
...Não o direi. Até eu, sobretudo eu, me atraiçoo. Calei a minha alma como um bebé. Já não sei falar. Já não posso falar. Desperdicei o que não me deram, tudo o que tinha. E novamente a morte. Ameaça-me, é o meu único horizonte. Ninguém se parece com o meu sonho. Senti amor e maltrataram-no, sim, a mim que nunca quis. O amor mais profundo desaparecerá para sempre. Que poderemos nós amar a não ser uma sombra? Morreram já os sonhos sagrados da infância e também a natureza, a que me amava



Alejandra Pizarnik,, Abril, 1972



Versão de HMBF

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