sábado, 14 de janeiro de 2012

MEMÓRIA DO CONFRADE MICHAEL*





Jamais será manhã, sempre noite,
Pôr-do-sol dourado, idade de ouro —
Quando Shakespeare, Marlowe e Jonson escreviam **
O futuro da Inglaterra página a página
Uma vala de urtigas selvagens foi o palco da Irlanda.

Jamais será Primavera, sempre Outono
Após uma colheita sempre perdida,
Quando Drake conquistava mares para a Inglaterra ***
Nós navegávamos em charcos do passado
Perseguindo o fantasma do mastro de Brendan. ****

As sementes entre o pó foram menos que poeira,
Poeira procurámos, ruína,
O jovem rebento erguendo-se nela asfixiado,
Amaldiçoado por estar no caminho —
E o mesmo ainda hoje é verdade.

A cultura é sempre qualquer coisa que foi,
Qualquer coisa que os pedantes podem avaliar,
Caveira de vate, fémur de chefe,
Profundidade de um rio seco.
Teremos de ser assim para sempre?
Teremos de ser assim para sempre?



Patrick Kavanagh



* Mícheál Ó Cléirigh (1590-1643): cronista irlandês, autor de Annals of the Kingdom of Ireland.
** William Shakespeare (1564-1616), Christopher Marlowe (1564-1593) e Benjamin Jonson (1572–637): dramaturgos ingleses.
*** Sir Francis Drake: (1540–1596): navegador inglês.
**** Saint Brendan of Clonfert (484–577): chamado de O Navegador, é um dos primeiros santos monásticos irlandeses.

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