A MÚSICA
A música partilha com a flor
a carne que se alaga como um copo.
A música é um rizoma atómico
cheia de sílabas grossas e finas
no peito maduro da onda.
Por isso a onda cai e a flor
também. E se te digo sei que ficas
triste e é quando substituis essa
geração de força por dois pequenos
vasos à entrada do teu dorso (e qual
és tu e qual sou eu é uma haste subindo)
Do teu lado esquerdo é dia.
O vestido é branco e aponta
a cidade a que chegas com os
dedos, rodando os ombros mas
não a cabeça. O teu olhar
é uma ferida musical sem verbo fixo:
a penumbra bate às vezes na
pálpebra, outras na imaginação.
A queda gera o seu próprio
impulso, como se fosse o preen-
chimento de uma forma: chama-se amor
e serve para os ouvintes ouvirem o esbracejar
do desejo, esses versos de asa silenciosa-
ouves?
Há poetas azuis que julgam que a
coerência é um pardal azul (da goela
até aos pés). Normalmente limpam os óculos
com coerência, em vez de com (enfim)
e depois vêem o mesmo pardal, a todas
as horas do dia e da noite, sentado azul-
mente sobre o seu nariz azul.
Pela direita, dizes que os versos
não caem se mudares constantemente
o chão. Mas os sonhos sim, e que a transla-
ção do vento sabe do remorso dos bichos mais
pequenos: procura as palavras junto ao chão
e se não me vires,
é porque o silêncio é também a música
e canto-a sem nome
para ti
Rui Costa (também aqui)
Adenda: O funeral do Rui será no cemitério de Santa Marinha (mapa; coordenadas: 41 07' 43,83''N, 8º 37' 37,64''O) pela 10h30 da manhã do dia 20 de Janeiro. O corpo estará numa das capelas mortuárias do cemitério a partir das 9h00 da manhã do mesmo dia. Após uma breve cerimónia o corpo do Rui seguirá para o cemitério de Macieira de Cambra, Vale de Cambra (mapa; coordenadas GPS: 40º 51' 31,39''N, 8º 22' 28,36''O).
11 comentários:
Que porra inesperada (para mim, pelo menos).
Também o tenho nos meus.
Ab.
Que judiação, esse belo poeta, e tão jovem..
É uma perda irreparável, pois ultimamente estava lendo seus poemas e são ótimos.
RUI, vá de encontro aos braços do Criador.
Mas que puxa.
NÃO ACREDITO!
Não vou poder acompanhá-lo amanhã. E lamento tanto. Aos que vão, um abraço. E este não saber o que dizer. Saudade.
Rute Mota
Por cada poeta que parte a minha pena fica mais húmida e a minha pluma mais seca. Quanto mais um homem verde com um caderno por preencher. Os meu sentimentos aos seus familiares e a todos os poetas do mundo. Vai Rui que tentaremos escrever aquilo que agora só podes junto do teu criador. Fernando oliveira
Só agora vi que o funeral é daqui a umas horas, não tenho como ir.Saudades do grande Costa, pá
Saúde e bja para toda a tribo
MJ
http://youtu.be/PAvZgtJFEpg
Tomei a liberdade de levar a imagem.
Somente agora soube da trágica notícia. Não consigo acreditar, não quero acreditar. Não cheguei a conhecer pessoalmente o Rui Costa. Um dia ele visitou o meu blog e deixou um comentário. Passei a frequentar as suas publicações no Implante de Ciclones. Surgiu dai uma empatia, que quero crer agora, tenha sido mutua... não tive tempo de conhecê-lo melhor. Em dezembro nas minhas férias fui à Itália, o Rui me escreveu convidando para um bate papo se acaso eu fosse também a Portugal. Infelizmente não foi possível, o que na data e ainda hoje lamento profundamente.
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