quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

BEJA

Camarada Van Zeller, estou horrorizado. Em Beja, um homem matou à catanada a mulher, a filha, a neta e, ao que me disseram, o periquito, o peixe e um gato que faziam parte da família. Continuam a ser às dezenas as mulheres assassinadas neste país. Há quem diga que é do sangue árabe que nos corre nas veias, mas o Armando Barrote tem opinião diferente: não queriam ser assassinadas, não tivessem casado. É um tipo de raciocínio muito em voga que pode ser aplicado em diversos contextos. O funcionário público que não deseja a mobilidade pode sempre pedir a rescisão do contrato, o português que não quiser enfrentar o desemprego pode emigrar, o doente insatisfeito pode deixar de ser piegas, o jovem que nunca fez nada na vida pode inscrever-se numa juventude partidária. Em última análise, há sempre uma alternativa. Sócrates tinha as novas oportunidades, a coelheira de Passos tem o coito interrompido. Se não queres filhos, tira-o atempadamente e aperta os tomates. É este tipo de técnicas que gera abortos de apelido Almeida. O Quintino Aires explica, se não estiver ocupado a explicar o crime de Beja. É um horror, o crime de Beja. As televisões tentam fugir ao assunto, mas não há como fugir. Neste caso o coito interrompido não funciona, é preciso vir-se para fora e espalhar o mórbido êxtase pelas faces da população, tão ávida que anda de sensacionalismo e de proto-justiça. É preciso saber onde o narcisista tomava o pequeno-almoço, almoçava, jantava. É preciso saber onde passeava o cão, se usava cuecas ou boxers, se preferia vinho tinto ou cerveja preta, é preciso descortinar o crime, dar trabalho ao Hernâni, ouvir a opinião do autarca de Santarém, perceber o que pensam sobre o assunto pessoas tão esclarecidas como o prof Marcelo e o Barra da Costa. É preciso ir à bruxa. Ao pé desta urgência criminológica, 771 mil desempregados são uma pieguice e o Presidente da República um caguinchas que os portugueses, esses mesmos, não outros, conseguem aguentar no poder durante 20 anos, isso mesmo, 20 anos. Este país é isto, a capital deste país é Lisboa.

3 comentários:

paulo da ponte disse...

Denso e perturbador, tal como a realidade.

Claudia Sousa Dias disse...

o que era preciso era investir na saúde mental dos Portugueses. Dar emprego aos psicólogos clínicos e criminólogos nos hospitais, nas escolas e, na PJ, ao invés de os colocar em call-center a vender internet por telefone.

Claudia Sousa Dias disse...

Mas tem razão, Henrique Fialho...ainda agora no jornal das 9:00 na TVI interromperam uma notícia sobre a marcação de uma nova paralisação geral movimentada pela CGTP e a intervenção líder sindical da UGT para explorar com detalhes mórbidos a notícia de que o homicida de Beja apareceu morto na cela...é demasiado óbvio...