sexta-feira, 18 de maio de 2012

UMA MEDALHA PARA O ZÉ POR TER LIVRADO DO COISO GERAÇÕES INTEIRAS DE POLÍTICOS QUE SE NÃO TIVESSEM NASCIDO TERIAM DE SER INVENTADOS

Camarada Van Zeller, a minha alma está parva. E pergunta você, com esse seu ar de Pluto apatetado: mas quando parva não foi? Tem razão, camarada. Porém, hoje está mais parva que nunca. Não por causa dos mil milhões encontrados na bagageira de um qualquer Zé Medalhas, enquanto os beneficiários deste PPR alternativo se mantêm tão intocáveis como os dalit da Índia. Milhões desses não me aparvalham, são feijões na minha camioneta. Eu estou aparvoado com outras realidades. Eu estou coiso como coiso está o Álvaro, com o desemprego cravado na garganta dos outros e muitas soluções à vista: não sejam piegas, uma, emigrem, duas, não façam disso um estigma, três, aproveitem a oportunidade para investir, quatro. Já disse à minha mulher, que está coisa, para não me chatear mais com as suas pieguices, siga os bons conselhos do PM e invista. Aproveite o tempo livre e faça crescer o dinheiro em investimentos de futuro, consulte o Zé Medalhas. Aconselhe-se. Mas a minha mulher, ai a minha mulher, ela não me ouve. O coiso não deixa. E sempre que fala é para me deixar abasbacado. Ela aprendeu com o Relvas, pressiona-me e ameaça-me, não me quer deixar dar voz às angústias e aos anseios da verdade. Ela é como aqueles opinantes da televisão e da rádio que se fartam de achar coisas, e eu tão pobre e azarento que nunca acho nada. A única vez que achei alguma coisa, levei um par de estalos nas trombas por ter metido mão em propriedade alheia. Mal sabia minha santa mãe ter ali gerado um pobre desgraçado, deitando por água méritos para uma promissora carreira política. Estou curado. Já nada disto me coisa. Nem mesmo ter ouvido um primata qualquer, que se não tivesse nascido teria de ser inventado, afirmar que a Grécia é um país inventado, uma ex-província do Império Otomano. Ai, caro Van Zeller, tanta estupidez nos governa e já nada disto me espanta, aparvoa, atrapalha. Nem Isaltino manter-se livre, nem ter o Estado oferecido uma pulseira ao Lima, nem as secretas ao serviço dos suspeitos do costume, gente bem empregada que nunca necessitou fazer do coiso uma oportunidade para mudar de vida. Camarada Van Zeller, sem mais rodeios, aqui lhe confesso que tudo o que me aparvalha neste momento é ter sabido, passados 20 anos, viver com uma mulher que já beijou o Primeiro Ministro Coelho. Foi nas tasquinhas do Landal, andava o jota, ainda de bibe, pendurado na comitiva do turco que governa as Caldas. Isto sim, é a morte de um homem em tempos de coiso exponencial.

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