O erotismo é o elemento mais evidente nos Desenhos Secretos de S. M. Eisenstein, mas por detrás desse erotismo parece esconder-se uma outra dimensão: o poder. Também a obra cinematográfica do cineasta russo vive destes jogos de sombras, provavelmente respigados no gosto pela cultura japonesa e fortemente influenciados pelas condicionantes políticas da época. Neste livro, publicado pela Quetzal em Setembro de 2003, recentemente adquirido ao preço de 5€ numa feira do livro, Jean-Claude Marcadé e Galia Ackerman apresentam-nos um Eisenstein muito mais humano do que aquele que os críticos de cinema geralmente endeusam. Nascido em Riga, a 23 de Janeiro de 1898, no seio de uma família burguesa desavinda, Eisenstein fez a sua formação em conformidade com as conveniências. Já na idade adulta, vemo-lo a curvar-se perante o poder em diversas ocasiões. À elasticidade do espírito parece corresponder uma elasticidade nas acções que obriga a certos esforços de compreensão, sobretudo se tivermos em conta o inventário de grandes almas intransigentes que acabaram fuziladas ou suicidadas pelas máquinas dos regimes tirânicos. Parece haver na vida de S. M. Eisenstein, como provavelmente haverá na vida de todos nós, mais ou menos vincadamente e salvaguardadas as (des)proporções do génio, uma simulação constante da verdade. A forma como procurou ludibriar a sua evidente condição homossexual é um bom exemplo, mas também os jogos de cintura que foi tentando manter com o poder político em favor de uma intenção criadora naturalmente megalómana. Digo naturalmente porque outra coisa não se exige aos génios. Ora, tudo isto me leva a pensar na utilidade do desequilíbrio. Muitos dos planos nos filmes de Eisenstein cativam-nos precisamente por esse desequilíbrio nas formas que transformam meros rostos humanos em hiperbólicas figurações da humanidade.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
DESENHOS SECRETOS
O erotismo é o elemento mais evidente nos Desenhos Secretos de S. M. Eisenstein, mas por detrás desse erotismo parece esconder-se uma outra dimensão: o poder. Também a obra cinematográfica do cineasta russo vive destes jogos de sombras, provavelmente respigados no gosto pela cultura japonesa e fortemente influenciados pelas condicionantes políticas da época. Neste livro, publicado pela Quetzal em Setembro de 2003, recentemente adquirido ao preço de 5€ numa feira do livro, Jean-Claude Marcadé e Galia Ackerman apresentam-nos um Eisenstein muito mais humano do que aquele que os críticos de cinema geralmente endeusam. Nascido em Riga, a 23 de Janeiro de 1898, no seio de uma família burguesa desavinda, Eisenstein fez a sua formação em conformidade com as conveniências. Já na idade adulta, vemo-lo a curvar-se perante o poder em diversas ocasiões. À elasticidade do espírito parece corresponder uma elasticidade nas acções que obriga a certos esforços de compreensão, sobretudo se tivermos em conta o inventário de grandes almas intransigentes que acabaram fuziladas ou suicidadas pelas máquinas dos regimes tirânicos. Parece haver na vida de S. M. Eisenstein, como provavelmente haverá na vida de todos nós, mais ou menos vincadamente e salvaguardadas as (des)proporções do génio, uma simulação constante da verdade. A forma como procurou ludibriar a sua evidente condição homossexual é um bom exemplo, mas também os jogos de cintura que foi tentando manter com o poder político em favor de uma intenção criadora naturalmente megalómana. Digo naturalmente porque outra coisa não se exige aos génios. Ora, tudo isto me leva a pensar na utilidade do desequilíbrio. Muitos dos planos nos filmes de Eisenstein cativam-nos precisamente por esse desequilíbrio nas formas que transformam meros rostos humanos em hiperbólicas figurações da humanidade.
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2 comentários:
Interessante análise. Um espelho do que eu penso. Um dos livros que mais prazer me dá. Folhear. Parar. Mais umas páginas. Perder-me em pormenores. Existe um outro que sugiro que veja (caso queira): "Os sonhos de Fellini". A ligação é muito superior ao facto de serem dois realizadores.
agradeço a sugestão
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