domingo, 16 de setembro de 2012

HELENA DE TROIKA

Camarada Van Zeller, tirei o dia para descansar da luta e ver documentários sobre os povos do deserto. Qual não foi o meu espanto quando, num desses documentários, vi surgir no alto de uma duna, envolta em pó e tal uma miragem, a Helena Matos. Para quem não saiba, e muitos não saberão porque, em boa verdade, não interessa saber, trata-se de uma dessas luminárias que pululam pela imprensa portuguesa debitando teses com a convicção dos tontos. Sem pretender tomar a sua perspectiva por algo mais do que um mero arroto intelectual, até porque os burros usam viseiras e a Helena usa franja, o que lhe impede de ver um pouco mais que seja acima do seu nariz, sirvo-me aqui das suas palavras para, camarada Van Zeller, lhe comunicar o que senti durante o dia de ontem. Diz a Helena que as manifestações estão longe de traduzir desaprovação em relação ao governo. Temos aqui algo que nos obriga a rever o conceito de cegueira, pois cego não é, definitivamente, aquele que não vê. Mas também não é apenas aquele que não quer ver. É, de hoje em diante, aquele que finge não ver. A Senhora Dona Helena finge não ver o óbvio, ou seja, o estado de saturação a que uma imensa maioria da população portuguesa chegou e que lhe torna insuportável a contínua roubalheira a que vem sendo sujeita. Independentemente de questões ideológicas, é disso que se trata. As pessoas parecem ter consciência das dificuldades económicas, mas não estão dispostas a engolir o argumentário hipócrita (e idiota) de quem lhes diz terem vivido acima das suas possibilidades quando outra coisa não fizeram senão ir vivendo na medida do possível. As pessoas parecem ter consciência das dificuldades do país, mas não estão dispostas a suportar sacrifícios infligidos por aqueles que, afinal, são os mais óbvios responsáveis pelo estado a que o país chegou, invertendo assim todo o sentido da justiça colocando no lugar do juiz um criminoso e no lugar dos réus as vítimas. Foi essa saturação que levou ontem centenas de milhar de pessoas à rua, misturando radicais com betos entre os quais só não vimos a Helena Matos porque, na melhor tradição portuguesa, preferiu ficar sentada no sofá a apontar tudo o que mexe e a criticar quem faz alguma coisa. A Helena Matos lembra-me as pessoas da terra onde nasci, Rio Maior, que se alguma vez reagiram contra alguma coisa foi sempre contra aquilo que reage, em nome de um conformismo e de uma passividade tão artificial como a peruca que a Helena parece trazer sobre o crânio. Ao dizer que nesta manifestação só esteve quem nunca apoiou este governo, a Senhora Dona Helena assobia para o lado e cospe contra o vento. Porque nela esteve, e eu vi, gente que votou no programa deste governo, um programa traído diariamente, sempre no pior dos sentidos, como facilmente se comprova, tornando Passos Coelho em mais uma réplica da governação mentirosa, aldrabona, vigarista e até criminosa de que os portugueses há muito são vítimas. Mas mais hilariante é aquilo que entra pelos olhos adentro da Helena (não sabemos quantos, nem quais e estamos longe de desejar sabê-lo): «quem apela à revolta da rua são os privilegiados do sistema. Aqueles que enriqueceram ou atingiram apreciáveis níveis de vida graças a esses estado (sic) que agora não conseguimos sustentar». Ok, admito que seja difícil digerir a expressão massiva de indignação que ontem levou à Praça de Espanha, e depois a São Bento, e a várias ruas e praças de outras cidades deste país, centenas de milhares de cidadãos certamente tão ou mais ou menos privilegiados do sistema que a Dona Helena, mas nada se compara à indigestão provocada pela insanidade vomitada nestas palavras. Será que a Helena se toma ela própria por uma privilegiada do sistema? Ou faz parte desse povo que, segundo ela, irá penalizar o governo indo para a praia e não pagando impostos? O que é Helena? Quem é? De que lado está? Chega a ser cómico julgar que uma coisa destas foi escrita, partindo do princípio que pensá-la já era mau e dizê-la pior seria. Escrevê-la é passar um atestado de estupidez a si próprio. Portanto, na rua estiveram os privilegiados do sistema!... Mas quem são eles na cabeça de Helena? A gatunagem do BPN? Os papa cargos? Os oportunistas da política? Os “donos de Portugal”? Não. São, e passo a citar, «os artistas, os designers, os patrões da imprensa, os bispos eméritos das forças armadas, os provedores, os professores doutores em saberes tão vagos quanto a licenciatura de Relvas, os empresários dos magalhães e similares, os sindicalistas com progressões automáticas garantidas…. que querem que o povo se revolte». É a loucura, senhores, é a loucura. E isto no dia em que ficámos a saber de mais um estudo onde se prova que Portugal é o país da UE, com excepção da Letónia e Lituânia, a ter maiores desigualdades na distribuição dos rendimentos. Mas é óbvio que para Helena de Troika também este estudo só pode ter sido levado a cabo por uma cambada de privilegiados. Este estudo não cabe no olho de Helena, mas bom seria que alguém lho enfiasse pelos olhos adentro.

6 comentários:

Nuno Dempster disse...

Eu diria olho - fica dito

hmbf disse...

Não há limites para a desvergonha.

Claudia Sousa Dias disse...

Desculpem-me a ignorância, mas...quem é essa GAJA?

Ana disse...

Ena, ena Helena! Fiquei a saber que eu, desempregada, sou uma privilegiada!

Pedro Góis Nogueira disse...

Mas nem foi só ela, vai-se ao Blasfémias, ao Insurgente, ao Douta Ignorância, ao 31 dos Assessores, etc e é um fartote (o Combustões e o Insurgente falam em 10 mil manifestantes...) A TV também não ajuda, ontem fui ver os telejornais e o primeiro comentador a aparecer foi o Vítor Bento...Vi mais tarde na net ele a dizer sem se rir que TSU não é austeridade (pois não, é gamanço de Casino)...Isto para dizer, não é que alguns media não se enxerguem, são paus mandados. Não é que este Governo seja tão incompetente, é precisamente esse o plano: empobrecer, baixar o custo do trabalho, escravizar, submeter. Só nessa mediocridade é que se encaixam as Helenas Matos desta vida.

Anónimo disse...

Muito injusto para com as pessoas de Rio Maior!
MF