quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ENTRE OS SEUS PLANOS ESTAVA PARTIR PARA O SUL

Santos, Lisboa. 2012.

Durante muitos anos, na casa de Archimboldi as suas únicas posses foram a sua mala, que continha roupa e quinhentas folhas em branco e os dois ou três livros que estivesse a ler naquele momento e a máquina de escrever que Bubis lhe oferecera. A mala carregava-a com a mão direita. A máquina carregava-a com a mão esquerda. Quando a roupa começava a ficar usada, deitava-a fora. Quando acabava de ler um livro, oferecia-o ou abandonava-o numa mesa qualquer. Durante muito tempo recusou-se a comprar um computador. Às vezes aproximava-se das lojas que vendiam computadores e perguntava aos vendedores como funcionavam. Mas sempre, no último minuto, recuava, como um camponês receoso com as suas poupanças. Até que apareceram os computadores portáteis. Então sim, comprou um e ao fim de pouco tempo já o manejava com destreza. Quando o modem foi incorporado nos computadores portáteis, Archimboldi trocou o seu computador velho por um novo e às vezes passava horas ligado à Internet, à procura de notícias estranhas, nomes que já ninguém recordava, acontecimentos esquecidos. O que fez ele com a máquina de escrever que Bubis lhe ofereceu? Aproximou-se de um desfiladeiro e atirou-a para o meio das rochas!

Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Roberto Bolaño.