domingo, 9 de dezembro de 2012

BRUTOSGATE



Camarada Van Zeller, quem julgava ter no Gaspar um messias à altura do Salazar que foi chamado às finanças em 1926 bem pode tirar o cavalinho da chuva. Não lhe resta senão uma figura inspiradora para anúncios ao Jumbo e ao Licor Beirão. O ministro diz-se e desdiz-se, aponta-nos equívocos e alucinações, com o semblante irremediável de um lunático à solta. Aqueles papos nas olheiras não enganam, são demasiadas horas a olhar para o monitor do Mac. Já essa figura sinistra que dá pelo nome de Miguel Relvas não tem direito a anúncio, mas há-de ter direito a um canal de televisão inteiro. Há tempos, Helena Roseta tentou definir o personagem revelando o seu lado de moço de recados dos interesses privados no Oceano dos dinheiros públicos. Foi assim com a empresa do doutor Passos Coelho, a lançar mão às verbas comunitárias, há-de ser assim com os amigos angolanos, colombianos, brasileiros. O estilo não engana, e é muito popular em Portugal. Chamem-lhe cunha, clientelismo, nepotismo, o que preferirem. É a sem vergonha de um povo inteiro que se deixa governar por vigaristas, copia-lhes os actos à medida das suas possibilidades, e deixa-se enredar na alegria das dúvidas existenciais que os teóricos lançam para a mesa: seremos a Grécia?  Tudo muito protegido pela legalidade das actuações. Não somos a Grécia, somos bem pior. Somos a cauda de uma europa com gastroenterite, a borrar Relvas e Coelhos e Gaspares e Borges numa incontinência de porcaria sem remédio à vista. O povo que sai à rua acomoda-se, faz a árvore de Natal, prepara a consoada, preocupa-se com o Banco Alimentar e os lenços de seda chinesa da Jonet, olha-se ao espelho para se certificar de que não está a metamorfosear-se em grego e condescende com os Relvas e mais sua companhia de metralhas que vão sugando o que ainda há para sugar nesta cauda europeia exangue e desidratada. Não chegou apanhar o mentiroso que conseguiu o grau académico mais meteórico da riquíssima história do mundo universitário português, um mundo fascinante ainda por explorar que já nos ofereceu uma Lusófona ao serviço de currículos improváveis, uma Independente especializada na formação de burlões e uma Moderna dan browniana com contas na Suíça, viaturas de luxo e ligações subterrâneas às Grandes Lojas maçónicas das boas elites portugueses. Portugal não é a Grécia, é pior. É o fundo do vulcão para onde Empédocles saltou, uma lava sulfurosa de gente corrupta, mesquinha, desavergonhada e com a consciência ética e moral de uma varejeira, divertindo-se com jogos de bastidores, manipulando a opinião pública, distraindo a sempre serena populaça enquanto se passeia nos corredores do poder distribuindo cargos e títulos. O mais recente dos jogos está à altura dos tempos, pois estas máfias são exigentes. Não lhes basta já os jogos de tabuleiro, anseiam, como qualquer criança, pela luminosidade dos ecrãs. É vê-los de joystick na mão a dar cabo da RTP, a televisão pública que andam a cozinhar para privados com temperos de requinte cujas consequências se resumirão, mais uma vez, a um altissonante arroto de satisfação no estômago do poder (angolano). Varreram um director de informação com uma pinta que há-de deixar Moura Guedes e Crespo, as vítimas do terrível e maléfico Sócrates, roídos de inveja. António Borges, o obscuro mensageiro do Governo, já veio a público trazer o recado. Alberto da Ponte, amigo de seu amigo Passos Coelho, reuniu-se com os angolanos que estão a tentar meter no saco DN, JN, TSF e mais uns trocos, numa orgia dramática que traz a palco empresas várias no domínio dos media portugueses e a misteriosa Newshold, de proprietários desconhecidos e «participada a 95% pela offshore Pineview  Overseas, registada no Panamá». Portanto, gente invisível que traz ao negócio a eterna clareza e transparência que os nossos políticos adoram e se esforçam imenso por promover. John le Carré não engendraria melhor argumento.

2 comentários:

Anónimo disse...

sendo que este «argumento» lhes servirá muito bem no futuro quando já não tiverem responsabilidades governativas. ou melhor dizendo: vou ali ser ministro para acabar com o que de melhor temos e garantir a minha reforma noutras paragens !

o governo é fixe, meus amigos !

abraço
mg

Ivo disse...

Só não concordo com uma palavra: "Imaginação", em 'Etiquetas'. Infelizmente toda esta podridão é demasiado real para ser imaginação. Antes fosse, antes fosse...