terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ERA IDIOTA MOSTRAR-ME TODO INFLAMADO DIANTE DE ULRIC, QUE SE APRESENTAVA SEMPRE FRIO E SERENO.

Santos, Lisboa. 2012.


Como podemos fazer com que outra pessoa compreenda o que está, realmente, a acontecer dentro de nós? Se partisse uma perna, ele largaria tudo, mas como o meu coração rebentava de júbilo... Bem, é um bocado chato, não acham? As lágrimas suportam-se mais facilmente do que o júbilo. O júbilo é destrutivo, causa desconforto aos outros. «Chora e chorarás sozinho» - que mentira! Chora e encontrarás um milhão de crocodilos dispostos a chorar contigo. O mundo passa a vida a chorar, o mundo está encharcado em lágrimas. O riso... o riso é diferente. O riso é momentâneo, passa. Mas o júbilo... o júbilo é como que uma hemorragia extática, uma vergonhosa espécie de supercontentamento que trasborda de todos os poros do nosso ser. Não podemos tornar os outros jubilosos só pelo facto de nos sentirmos jubilosos. O júbilo tem de ser gerado por cada um, existe ou não existe. O júbilo baseia-se em algo tão profundo que não pode ser compreendido nem transmitido. Sentir júbilo é ser um louco num mundo de fantasmas tristes.

Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Henry Miller.

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