sábado, 30 de março de 2013

DEMISSÃO

 
 
Camarada Van Zeller, depois de uma semana inteira a vomitar, devido a desarranjos provocados pelas sinecuras da Presidência do Conselho de Ministros, eis que me ergo do torpor revigorado pela luz da manhã e respondo, finalmente, a este nobre desafio: porque deve o actual Governo demitir-se? Julgo que o actual Governo deve demitir-se pela mais evidente das razões, não está a cumprir o programa pelo qual foi eleito. Constatamo-lo diariamente, embora não tenhamos perdido tempo a ler o programa. Limitámo-nos a tomar de exemplo as boas práticas do Ministro Relvas e solicitámos uns créditos na Junta de Freguesia, o que faz de nós, mais que não seja, cidadãos suficientemente esclarecidos quanto à respeitabilidade dos programas eleitorais.
Pegando na comichão de Jorge Ortiga, venerável arcebispo de Braga, diria que o Governo deve demitir-se porque:
   consente que muitos seres humanos continuem a ser vítimas da miséria social, da violência doméstica, da escravatura laboral, do abandono familiar, do legalismo da morte (gosto especialmente do tom medieval da expressão), da corrupção judicial, das mortes inocentes na estrada, das mentiras dos astrólogos (morte à Maya), do desemprego (por acaso, a astrologia não é mau empreendimento), de uma classe política incompetente e do monopólio dos bancos. Julgo que também não tenha feito grande coisa para combater a pedofilia na Igreja, a corrupção no Vaticano e os regimes de excepcionalidade garantidos pelas concordatas. Mas isto sou eu a falar, enquanto compro uma velinha no santuário de Fátima e ninguém me passa factura.
Contra um Governo cúmplice deste estado social e desta degradação moral, eu sublinho a solução de Ortiga: Jesus. A solução para a miséria social está em Jesus, assim como a solução para o legalismo da morte e a sinistralidade nas estradas. Jesus é a salvação, Jesus ao poder. Não descansarei enquanto não vir Jesus no interior do meu frigorífico.
 "O que importa é vencer, nem que seja por meio a zero"
 

Porque um Jesus dentro do frigorífico faz milagres, multiplica-se como o pão e o vinho, é como Sócrates a dar o salto por cima. Imaginem só se desse por baixo. Esse autêntico libertador do povo, Jesus, há-de livrar-nos, mais que não seja, de Coelho, Gaspar & Relvas, assim como das taxas abusivas, dos suicídios crescentes, das depressões exponenciais, das negociatas com o António Borges, dos modelos germânicos, das verdades, das meias verdades e das falsidades totais, meias, parciais, a um terço, de Sócrates. Jesus há-de livrar-nos do regresso do Jorge Coelho (mais um para encher a coelheira) à actividade política, assim como do retorno de Sócrates ao comentário televisivo.
Jesus, leitor de Marx e fã de Pascal, guiará as massas entre os destroços da Europa. Urge, pois, que nos voltemos para Jesus e oremos por um futuro mais justo e mais próspero. Quem ora seus males espanta. Não é bem assim, mas o efeito é o mesmo. E Jesus merece que “voltemos a voltar-nos” para ele, um pouco como Sócrates a dar saltos por cima, Vítor Gaspar a preparar-se para explicar a sétima avaliação a 5 de Abril (devia antecipar a coisa para o dia das mentiras, que assim como assado tinha desculpa), e Coelho a dar mais um passo na direcção do ajustamento. Desça pois Jesus dos Céus e venha em nosso socorro, que já esperança alguma resta nestes que sobre a Terra nos vão vigarizando diariamente.

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