Tenta acabar de imediato
com os gestos deliberadamente provocatórios e as estatísticas
de vendas,
almoços de domingo e fornos a gás,
acabar com os desfiles de moda e os horóscopos,
paradas militares, concursos de arquitectura
e o tumulto das luzes dos semáforos.
Liberta-te de tudo isso e prepara-te
para terminar com as festas e a remota possibilidade
de ganhares na lotaria,
índices do custo de vida e análises da bolsa de valores,
porque é muito tarde,
é demasiado tarde,
acaba com isso e vem para casa
para o silêncio que enfim
te encontrará como sangue quente a pulsar na testa
e como um trovão pelo caminho
e o bater das horas em relógios enormes
que fazem os tímpanos vibrar,
porque as palavras já não existem,
não há mais palavras,
de agora em diante toda a conversa terá lugar
com as vozes das pedras e das árvores.
O silêncio que vive na erva,
na raiz de cada lâmina
e no espaço azul entre as pedras.
O silêncio
que se segue aos tiros e ao canto dos pássaros.
O silêncio
que cobre o cadáver como um cobertor
e aguarda na escada até que todos se vão.
O silêncio
que pousa como um pequeno pássaro entre as tuas mãos,
o teu único amigo.
Rolf Jacobsen (1907-1994)
Versão de HMBF.
4 comentários:
Meu Deus, que poema lindo.
muito bem.
Lindo poema! Não conhecia a obra de Rolf Jacobsen. Procurarei saber mais, apesar de não ter sido editado no Brasil. Obrigado!
P.S.: Já leste "A Visita Cruel do Tempo", de Jennifer Egan? Se não, recomendo pesquisa, para descobrir sobre a possibilidade de o agradar. Confesso que tenho ressalvas quanto a livros que receberam críticas demasiadamente favoráveis e prêmios literários a quilo, mas a obra veio parar na minha mão por intermédio de uma amiga - e vem sendo agradável surpresa.
Olá Daniel. O livro teve críticas muito boas por cá, fiquei curioso mas não li. O título em Portugal é «A Visita do Brutamontes». Abraço,
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