Tenho um amigo nova-iorquino que diz que "o mundo foi criado para impedir o artista de levar a cabo o seu trabalho". Como é que consegue trocar as voltas ao mundo e levar a sua obra avante?
Levei muito tempo a convencer-me de que tinha talento suficiente para abraçar este ofício de escritor, mas, quando finalmente me convenci, tive a certeza de que ia continuar a fazê-lo até ao fim dos meus dias. Tenho tido muita sorte, mas, em certa medida, fui eu próprio a criar esta sorte, no momento em que, nos anos 60, decidi simplesmente fechar-me numa divisão, num apartamento minúsculo em Manhattan, e começar a escrever. Estava a trabalhar no meu primeiro romance, Americana (1971), e só tinha publicado dois ou três contos. Levei quatro anos a escrever Americana e, de início, nenhum editor o quis publicar, mas nunca desisti.
Pode descrever-me um típico dia de trabalho de Don DeLillo? Hemingway escrevia de manhã e de tarde ia pescar ou ia à caça...
É verdade, em tempos que já lá vão, os escritores faziam esse género de coisas. Trabalho todos os dias depois do pequeno-almoço, quatro horas seguidas, se possível. Depois faço uma pausa. A partir daí, o resto do dia ganha forma. Às vezes tenho afazeres, como sair para ir ver um filme. (Risos) Quando posso, torno a escrever ao final da tarde durante uma ou duas horas. Normalmente, não me deito sem reler tudo o que escrevi ao longo desse dia.
Don DeLillo entrevistado por Paulo Faria, in Ípsilon, Sexta-Feira 15 de Novembro de 2013.
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