Podíamos falar de filmes franceses, discutir os argumentos,
ou partilhar as melhores canções do ano, podíamos apontar no mapa lugares
luminosos, imaginar viagens numa geografia íntima, pessoal, podíamos pintar
rostos aleatórios, ensaiar melodias ou cadáveres esquisitos, podíamos discutir
filosofia, ler em conjunto, partilhar poemas, parágrafos, os textos de uma
vida, podíamos simplesmente desligar o tempo da vida e caminhar, andar a pé,
meter no lixo o que nos rouba espaço e tempo e comprime até ao ponto de sermos
pouco mais do que nada e ninguém, porque mais não somos, podíamos. Mas, enfim,
nisto de tanto podermos nada partilhamos, acabamos sempre encalhados nos mesmos
destroços diários. Um deitado no sofá a contar carneiros, o outro deitado no
teclado a contar histórias.
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