domingo, 22 de dezembro de 2013

PODÍAMOS

Podíamos falar de filmes franceses, discutir os argumentos, ou partilhar as melhores canções do ano, podíamos apontar no mapa lugares luminosos, imaginar viagens numa geografia íntima, pessoal, podíamos pintar rostos aleatórios, ensaiar melodias ou cadáveres esquisitos, podíamos discutir filosofia, ler em conjunto, partilhar poemas, parágrafos, os textos de uma vida, podíamos simplesmente desligar o tempo da vida e caminhar, andar a pé, meter no lixo o que nos rouba espaço e tempo e comprime até ao ponto de sermos pouco mais do que nada e ninguém, porque mais não somos, podíamos. Mas, enfim, nisto de tanto podermos nada partilhamos, acabamos sempre encalhados nos mesmos destroços diários. Um deitado no sofá a contar carneiros, o outro deitado no teclado a contar histórias. 

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